Já era hora de o Vaticano falar inglês

Gosto da ideia de um líder mundial que fale inglês como língua nativa
Um Papa que não tenha de recorrer à tradução simultânea, falará ao fundo do coração da audiência

1 – Depois do massacre covarde que Trump e aquele dromedário que é seu vice fizeram com Volodymyr Zelensky ao vivo e em cores na Casa Branca, me convenci de uma vez por todas que o sujeito não pode ser um líder de expressão global se não falar bem inglês.

2 – Mais do que uma aptidão ou um atributo, é um dever profissional inarredável. Pegue-se um país como os Estados Unidos como paradigma de negociação permanente. É de lá que emana hoje o obscurantismo, a louvação à ignorância como moeda de troca.

3 – Por mais que se anuncie como uma potência declinante – primeiro vem a desmoralização militar, caso do Vietnã; depois a econômica, vide o pavor à China; e, para coroar, a de valores, e aí está Trump – os Estados Unidos ainda serão um player considerável por 30 anos.

4 – Um Papa, imagina-se, não pretende trocar mensagens iradas por redes sociais com um bando de celerados que governam para os seus bolsos e seus néscios. Mas a nomeação do Cardeal Prevost – de Illinois – traz à baila, à sua maneira, um "Chicago boy". E isso é bom.

5 – Tendo feito parte de sua formação lá e parte dela num estado de viés tenebroso como a Pensilvânia, foi em Chiclayo, no Peru, que sua vocação se exponencializou. Numa cidade imortalizada por Vargas Llosa e, para mim, notável pelos ceviches e pela candura da gente.

6 – Num momento em que os imigrantes são subjugados para efeitos de cumprimento de um discurso de campanha que só desvela um falso dilema, um sacerdote forjado numa cidade do litoral peruano – quase no Equador, no corredor de El Niño –, pode ser um bom anteparo.

7 – Gosto da ideia de um líder mundial que fale inglês como língua nativa. Seria catastrófico se ele só falasse inglês. É quase tão grave quanto um que não fale. Mas falar inglês é um valioso ponto de partida. Há sutilezas de proximidade emocional que só o idioma dá.

8 – Um Papa que possa percorrer as ilhas britânicas, a Austrália, o Canadá, os Estados Unidos, a Índia e miríade de países africanos que têm no inglês sua língua franca sem ter de recorrer à tradução simultânea – por perfeita que ela seja –, falará ao fundo do coração da audiência.

9 – Se a língua de trabalho seguirá sendo o italiano, louve-se quem vai poder se expressar em inglês sem o chantilly e os brocados que os falantes latinos pelejam para aportar ao inglês – muitas vezes com resultados risíveis. Que o inglês do Meio-Oeste faça bom contraponto.

10 – Chicago, ademais de ser a cidade que mais amo nos Estados Unidos, é um melting pot educativo. Meca de italianos, hispânicos, gregos e poloneses, crescer nessa cidade açoitada pelos ventos do lago é bem mais abonador do que exercer seu ministério nas Dakotas.

11 – Não há melhor forma de aferir o quão acertada e sábia essa decisão do que dando uma olhada nas redes sociais de quem preconiza o atraso. Esses, que queriam a volta da missa em latim e da Inquisição, estão furibundos. E isso é por si só um excelente indício.

12 – Por fim, quem nasceu americano quando Bob Prevost veio ao mundo – ainda um baby boomer –, entesourou tanto as glórias dos grandes anos quanto vê, na melhor idade, 69 é a melhor mesmo, a mancha ameaçadora da treva, da ignorância e da demagogia exponencializada.

Que ele seja a luz. In English, please.

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Sábado, 10 Mai 2025

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