Brasil responderá taxação dos EUA com reciprocidade
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou uma tarifa de 50% ao Brasil em uma publicação nas redes sociais nesta quarta-feira (9). De acordo com Trump, as tarifas serão cobradas a partir de 1º de agosto. "Não haverá tarifa se o Brasil, ou empresas dentro do seu país, decidirem construir ou fabricar produtos dentro dos Estados Unidos e, de fato, faremos tudo o possível para obter aprovações de forma rápida, profissional e rotineira — em outras palavras, em questão de semanas", escreveu. Trump ainda ameaçou taxação adicional de mais 50% em caso de retaliação do Brasil.
O Brasil hoje paga 10% de tarifas sobre produtos importados implementada pelo presidente norte-americano em 2 de abril. Na terça (8), Trump reforçou a ameaça de cobrar mais tarifas de importação de países que compõem os Brics. O grupo, na visão de Trump, deseja "destruir o dólar", algo que justificaria a imposição de sobretaxas de 10% além das que já foram estabelecidas. "O Brics foi criado para desvalorizar nosso dólar. Qualquer um que esteja no Brics receberá uma cobrança de 10 %", declarou em seu gabinete na Casa Branca.
O governo brasileiro respondeu afirmando que qualquer medida de elevação de tarifas de forma unilateral será respondida à luz da lei brasileira de reciprocidade econômica. A lei sancionada em abril estabelece critérios para a suspensão de concessões comerciais, de investimentos e de obrigações relativas a direitos de propriedade intelectual em resposta a medidas unilaterais adotadas por país ou bloco econômico que impactem negativamente a competitividade internacional brasileira. Em nota, o Planalto negou a informação de que a ideia de tarifar o Brasil esteja relacionada a um déficit na relação comercial com os Estados Unidos. Segundo a nota, estatísticas do próprio governo norte-americano comprovam um superávit dos Estados Unidos no comércio com o Brasil da ordem de US$ 410 bilhões ao longo dos últimos 15 anos.
Relação comercial histórica
A imposição de 50% de tarifas sobre o produto brasileiro por parte dos Estados Unidos foi recebida com preocupação e surpresa pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). Para a instituição, a prioridade deve ser intensificar a negociação com governo de Donald Trump para preservar a relação comercial histórica e complementar entre os países. "Não existe qualquer fato econômico que justifique uma medida desse tamanho, elevando as tarifas sobre o Brasil do piso ao teto. Os impactos dessas tarifas podem ser graves para a nossa indústria, que é muito interligada ao sistema produtivo americano. Uma quebra nessa relação traria muitos prejuízos à nossa economia. Por isso, para o setor produtivo, o mais importante agora é intensificar as negociações e o diálogo para reverter essa decisão", avalia Ricardo Alban, presidente da CNI, também por meio de nota.
A entidade destacou que os Estados Unidos são o terceiro principal parceiro comercial do Brasil e o principal destino das exportações da indústria de transformação brasileira. O aumento da tarifa para 50% terá impacto significativo na competitividade de cerca de 10 mil empresas que exportam para os Estados Unidos. Resultados preliminares de consulta realizada pela CNI indicaram que um terço das empresas respondentes que exportam bens e/ou serviços aos Estados Unidos tiveram impactos negativos nos seus negócios. O levantamento foi realizado entre os meses de junho e início de julho, ainda no contexto da tarifa básica de 10% e demais medidas comerciais setoriais. A CNI reforça a importância de intensificar uma comunicação construtiva e contínua entre os dois governos. "Sempre defendemos o diálogo como o caminho mais eficaz para resolver divergências e buscar soluções que favoreçam ambos os países. É por meio da cooperação que construiremos uma relação comercial mais equilibrada, complementar e benéfica entre o Brasil e os Estados Unidos" destaca Alban no comunicado.
A Câmara Americana de Comércio para o Brasil (Amcham) emitiu nota sobre a decisão anunciada pelo governo dos Estados Unidos. "Trata-se de uma medida com potencial para causar impactos severos sobre empregos, produção, investimentos e cadeias produtivas integradas entre os dois países. A relação bilateral entre Brasil e Estados Unidos sempre se pautou pelo respeito, pela confiança mútua e pelo compromisso com o crescimento conjunto. O comércio de bens e serviços entre as duas nações é fortemente complementar e tem gerado benefícios concretos para ambos os lados, sendo superavitário para os Estados Unidos ao longo dos últimos 15 anos — com saldo de US$ 29,2 bilhões em 2024, segundo dados oficiais norte-americanos", relata a entidade multissetorial. "A Amcham Brasil — que há mais de um século atua pelo fortalecimento dos laços econômicos entre os dois países — conclama os governos a retomarem, com urgência, um diálogo construtivo. Reiteramos a importância de uma solução negociada, fundamentada na racionalidade, previsibilidade e estabilidade, que preserve os vínculos econômicos e promova uma prosperidade compartilhada", pede a entidade.
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