Pesquisadores identificam rochas ricas em terras raras em Caçapava do Sul

Essa é uma das descobertas feitas em conjunto pela UFSM, UFRGS e Unipampa
Os solos da região apresentam concentrações de terras raras até e seis vezes mais que os da China

As terras raras ganharam o noticiário com a manifestação de interesse do governo dos Estados Unidos nas reservas da China, Ucrânia, Groenlândia e Brasil. O motivo se dá pela importância econômica de substâncias que podem ser usadas em ligas metálicas para produção de chips de celulares, motores elétricos, turbinas eólicas, satélites e mísseis. Esses materiais não são raros, mas dificilmente são encontrados de forma concentrada em um único lugar. Apesar de o Brasil ter a segunda maior reserva mundial de terras raras, estimada em 21 milhões de toneladas, o equivalente a 23%, o país ainda não produz e nem refina – a China detém 44 milhões de toneladas, cerca de 49%, e se destaca como o maior produtor, maior responsável pelo refino e pela fabricação de ímãs, conforme dados da Mineral Commodity Summaries de 2025.

As reservas brasileiras estão presentes nas cinco regiões. No Sul, a região de Caçapava do Sul (RS) se destaca pela alta concentração de terras raras em rochas de carbonatito. Essa é apenas uma das descobertas de pesquisa, liderada pelo professor Marcelo Barcellos da Rosa, do Departamento de Química da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), e realizada em conjunto com o Departamento de Geociências da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e curso de Geologia da Universidade do Pampa (Unipampa). O estudo é financiado pelo edital Mineral Estratégicos do Conselho Nacional de Desenvolvimento e Pesquisa (CNPq) e seguirá até dezembro do próximo ano.

"Apesar do Brasil possuir a segunda maior reserva de terras raras, perdendo apenas para a China, o país ainda enfrenta obstáculos para transformar esse potencial em produção e refino em escala industrial. O principal desafio está na falta de uma cadeia integrada, que inclui desde a mineração e o beneficiamento até o refino químico e a separação individual dos elementos, etapas que exigem tecnologia avançada, investimentos robustos e domínio de processos complexos", explica o químico Lucas Mironuk Frescura, do Laboratório de Pesquisas Químicas e Farmacêuticas da UFSM. Hoje, o Brasil exporta parte desses minerais em estado bruto ou parcialmente beneficiado, mas ainda depende de países como a China para as etapas finais de purificação. "Apesar disso, desde 2010 esses elementos ganharam destaque no governo brasileiro. Aqui na UFSM, estamos no segundo projeto envolvendo os elementos terras raras, resultado desse maior interesse. O primeiro foi aprovado em 2013 e, assim como o atual, também foi coordenado pelo professor Marcelo Barcellos da Rosa", complementa Lucas, que também é doutor em Ciências com ênfase em Química pela UFSM e direciona seus estudos aos elementos de terras raras no Centro do Rio Grande do Sul.

Ele ainda conta que a região de Caçapava do Sul é um local de ocorrência de minerais estratégicos e críticos para o Brasil, pois apresenta ocorrências de rochas com elevados teores de Elementos Terras Raras, Nióbio e Tântalo, entre outros elementos de interesse. A concentração desses elementos ocorreu devido aos processos geológicos que ocorreram na região, em especial devido à presença de rochas denominadas carbonatitos, uma das muitas rochas formadas na evolução geológica do Escudo Sul-rio-grandense. Essa rocha, rara em termos de ocorrência no mundo, é a principal portadora desses elementos estratégicos e críticos que podem trazer o desenvolvimento para a indústria brasileira de alta tecnologia, como por exemplo, para a produção de ímãs de neodímio para motores elétricos de carros. 

"Atualmente já determinamos a concentração desses elementos em amostras de rocha, solo e vegetação nativa, a carqueja, e já temos resultados que mostram uma importante concentração de elementos terras raras nas rochas de carbonatitos, e concentração considerável nas amostras de solo, com valores de concentração nove vezes maiores que outras regiões do Brasil, doze vezes maior que solos de Cuba e seis vezes maior que solos da China", revela. Em entrevista ao Portal AMANHÃ, Lucas esclareceu que o estudo liderado pelas três universidades gaúchas ainda é preliminar. "Um dos objetivos que ainda está em andamento é poder definir a área exata, um dado que ainda não dispomos", afirma. 

Cada uma das universidades tem uma tarefa. A UFSM realiza a coleta e a análise de amostras de solo, vegetação nativa e águas superficiais, com o objetivo de determinar a presença e o comportamento geoquímico dos elementos de terras raras nessas matrizes. A UFRGS contribui com a identificação e caracterização das rochas carbonáticas, incluindo o preparo e análise de amostras de rochas, identificação mineralógica, quantificação de terras raras e a realização de estudos isotópicos e datações geológicas. Já a Unipampa, devido à atuação regional por meio do curso de geologia, identifica as áreas e minerais de interesse e também participa na caracterização da fauna local para fins de coleta e análise ambiental.

Veja mais notícias sobre BrasilNegócios do SulRio Grande do Sul.

Veja também:

 

Comentários:

Nenhum comentário feito ainda. Seja o primeiro a enviar um comentário
Visitante
Quarta, 13 Agosto 2025

Ao aceitar, você acessará um serviço fornecido por terceiros externos a https://amanha.com.br/