Um livro primoroso

As histórias de "O primeiro leitor" merecem um lugar na cabeceira de todo ficcionista
Pelos olhos de Luiz Schwarcz, você verá premiações do Nobel em Estocolmo, a Feira de Frankfurt e Saramago em Lanzarote (Foto: perfil do Facebook do autor)

Não consigo imaginar outro livro tão precioso para quem gosta de literatura quanto este de Luiz Schwarcz, fundador da editora Companhia das Letras. Vale até para quem se julga experiente. No livro anterior, que deixou meio mundo perplexo e, ao mesmo tempo, um pouco frustrado, Luiz escancarou os bastidores da depressão que o afligiu durante anos e que ainda o atemoriza. A despeito da coragem e da desconcertante franqueza, "O ar que me falta" pouco ou quase nada versou sobre a criação dessa obra monumental que é a editora – seus primórdios e expansão.

Já neste "O primeiro leitor", ele sai de dívida quitada. Além de conciso, generoso e bem escrito, o leitor se deliciará com um corolário de vivências que envolvem grandes nomes daqui e de fora. Quem pode falar com tanta legitimidade sobre Salman Rushdie, José Saramago, Chico Buarque, Caetano Veloso, Paulo Francis, Rubem Fonseca, Kazuo Ishiguro, ademais de Jorge Zahar e Caio Graco – seus mentores? No livro, nada é gratuito, nada é por acaso. É fascinante ver um rapaz dos anos 1970, monitor de Eduardo Suplicy na FGV, aportar na Livraria Brasiliense, da Barão de Itapetininga, e ali se descobrir. Luiz conta com honestidade e desassombro os episódios que assinalaram os altos e baixos de sua interação com essas grandes figuras; as zonas de luz e de sombra – sempre elegante e sincero.

Divertidas, traumáticas, férteis e pungentes – frequentemente com todos esses elementos presentes ao mesmo tempo – as histórias merecem um lugar na cabeceira de todo ficcionista. Nunca li em português algo tão rico sobre o olhar do editor e a feitura de um livro. Luiz desvenda e adensa o mistério, citando trechos representativos do que mais lê. E não é pouco. Dá a dosagem de cada elemento e nos traz sua concepção de contos e romances perfeitos. Admitindo sempre que a alquimia das palavras não obedece a nenhum preceito que garanta o pódio. Imprescindível para escritores, revisores, capistas, diagramadores e editores. Pelos olhos dele, você verá premiações do Nobel em Estocolmo, a Feira de Frankfurt e Saramago em Lanzarote.

São 300 páginas que, a seu modo, exalam também o glamour do ofício. Copacabana Palace, Freddy, Fasano, Paraty. E, como não, a guerra fratricida para se chegar ao livro que encante o mundo. Luiz fez a Embraer dos livros. Confira!

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Sexta, 16 Mai 2025

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