Mitologias de marca

A qualidade de certos produtos é atestada espontaneamente pelo consumidor
A "Hilux Indestrutível", como foi apelidado o veículo usado em testes em um programa de televisão automotivo

A publicidade e o marketing são os grandes responsáveis por criar mitologias de marca. Ou seja, revestir nomes e logos de atributos e narrativas que, quando trazidos à mente pelo consumidor, tornam-se quase uma segunda assinatura, dada a associação imediata. Às vezes, porém, é o próprio consumidor quem produz essa mitologia – que, se favorável, acaba orgulhosamente incorporada ao storytelling oficial.

Foi o caso recente de um sujeito que recolheu uma caixa de som JBL que havia ficado submersa no litoral gaúcho por dois meses depois que um carregamento destes equipamentos caiu no mar. Trazido à tona coberto de mariscos incrustados, o aparelho funcionava perfeitamente, apesar da aparência esquisita — o que rendeu comentários elogiosos do internauta que publicou o vídeo.

Mais impactante ainda estava o aspecto de outra caixa da mesma marca levada pelas enchentes de maio de 2024 no Rio Grande do Sul. Completamente enlameada após 25 dias entregue às águas e ao barro, o dono fez questão de mandar um alô para a fabricante quando reencontrou a preciosidade: produto aprovado.

Uma história que lembra a de outra marca, de ramo bem diferente, mas que também se orgulha de sua qualidade e robustez, a Rolex. Conta-se que, certa vez, um desavisado esqueceu um dos modelos do relógio no meio de suas roupas colocadas na máquina de lavar. Ciclos e mais ciclos de lavagem, enxague e centrifugação depois e...voilà, Oyster Perpetual pronto para outra. A companhia, claro, reúne anedotas como essa em seu press kit e ainda é ajudada por depoimentos espontâneos nas redes sociais.

Redes, aliás, que deram destaque ao caso recente de um Honda Accord 1992 à venda nos Estados Unidos com inacreditáveis 1,5 milhão de quilômetros rodados ("a mesma distância da Terra ao telescópio James Webb", fez questão de frisar a imprensa). As referências espantadas não se limitaram às boas condições da parte mecânica do veículo; o interior bem-preservado funcionou como elogio à montadora e ao cuidadoso proprietário, claro.

E já que o assunto é carro, talvez nenhum modelo, hoje, esteja envolto por tanta mítica quanto a picape Toyota Hilux, cuja resistência já foi posta à prova em diversos testes num conhecido programa de TV britânico, saindo-se com louvor em todos – entre os quais, ser atingida por uma bola de ferro e largada do 23º andar de um prédio em implosão. A Hilux, aliás, é o meio de transporte usado pelas agências de turismo que levam visitantes às dunas dos Lençóis Maranhenses, pois mostrou-se, ao longo do tempo, o único capaz de aguentar o tranco do terreno arenoso, segundo revelou-me um guia.

Mas como até as mitologias das melhores marcas têm sua face escura, a qualidade do utilitário japonês é tristemente atestada também pelo grupo terrorista Estado Islâmico, que o tem como veículo preferido para suas tenebrosas ações — o que obrigou a fabricante a criar mecanismos especiais para sua comercialização no Oriente Médio.

Certos elogios, afinal, é melhor nem receber.

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Terça, 25 Novembro 2025

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