Todas as bobagens que eles dizem...

...dariam para encher um caminhão

Crítico e perspicaz, o jornalista Flavio Gomes não perdeu a oportunidade de alfinetar a turma do marketing e da publicidade que lhe enviou releases sobre as "ativações de marca" e outras iniciativas que algumas empresas estavam promovendo no Grande Prêmio de Fórmula 1 de São Paulo, no último domingo (9). Em seu blog, ele reproduziu ao menos uma dúzia de comunicados de imprensa que falam em "experiência imersiva", "conexão", "entregas" e demais expressões do tipo. E cogitou que os textos assemelhados tenham sido produzidos por ferramentas de IA, dada a profusão de jargões e frases vazias (leia aqui e aqui) e não perca os comentários).

Sinto desapontar Gomes, e a quem mais imagine que tamanha padronização e superficialidade só possam ser fruto de um Chat GPT da vida. Ela sempre foi a tônica da nossa profissão, antes mesmo do surgimento desses recursos computacionais todo.

Por quê? Bem, porque a linguagem empresarial, de modo geral, e a marqueteira e publicitária, em particular, é a do exagero (daquilo que é vendido) e do ocultamento (da intenção de qualquer negócio: ganhar dinheiro). Ser direto e sincero é um pecado, pois acaba com a possibilidade de soar interessante e sedutor.

Como dominar esse vocabulário é pré-condição para ingressar, manter-se e prosperar nas hostes corporativas, os profissionais da área nem se apercebem de que o estão empregando a ponto de ficarem caricatos, como nos releases divulgados por Gomes.

Exclusividade do ramo? Claro que não. Passando os olhos sobre o palavreado das ciências humanas, da psicologia, do ativismo e do esporte, por exemplo, encontraremos os mesmos vícios - só que com outras terminologias, claro. O blábláblá comercial nos é mais evidente porque quase onipresente, e às vezes repetido sem a devida crítica por quem o veicula (a mídia especializada, por exemplo).

O que não quer dizer que tudo isso seja inofensivo. Os limites da linguagem são os limites do nosso mundo, já dizia o filósofo. E um mundo de clichês é inevitavelmente mais pobre.

O escritor peruano Mario Vargas Llosa (1936-2025) soube bem disso quando incursionou pela política de seu país, 35 anos atrás, em uma surpreendente candidatura presidencial. Anos depois, perguntado sobre o período, reconheceu: "uma campanha eleitoral exerce um efeito sobre a linguagem que, para um escritor, é terrível. (...) [T]rata-se de repetir, repetir, simplificar e repetir, simplificar e repetir. (...) [V]ocê acaba caindo (...) na linguagem completamente morta de um político profissional" (p. 195).

Ou de um informativo corporativo, poderíamos acrescentar.

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Segunda, 10 Novembro 2025

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