Por uma vida mais simples
A nona edição da pesquisa global EY Future Consumer Index (FCI), da consultoria Ernst & Young (EY), que veio a público em junho, revelou alguns hábitos dos brasileiros depois da pandemia. Embora tenha afetado as pessoas de formas muito diferentes, a crise sanitária mudou o comportamento de consumo da grande maioria. Os consumidores querem viver o momento presente, mas estão preocupados com o futuro. E desejam gastar menos, escolhendo produtos que os ajudem a cuidar da saúde, do meio ambiente e da sociedade, priorizando as experiências. Essa nova realidade não poupou ninguém – e até mesmo os altos executivos estão optando por formas mais simples de viver.
"Sob a ótica dos hábitos de consumo, o que tem ocorrido é uma diminuição de compras repetitivas e mais comoditizadas e uma migração para compras mais seletivas, de produtos de melhor qualidade", conta Cristiane Amaral, líder do segmento de varejo e bens de consumo da EY no Brasil e América do Sul. "A título de exemplo, percebemos que várias marcas de luxo tiveram as vendas aumentadas, assim como residências em condomínios de alto luxo ou até mesmo itens de moda mais casual", emenda. É verdade: contrariando a crise econômica, o mercado de luxo no Brasil cresceu 10,8% em relação a 2020 e alcançou um valor de vendas estimado em R$ 13,9 bilhões em 2021, de acordo com a Euromonitor International.
O estudo identifica que, surpreendidos pelos surtos de ômicron e influenza, no início do ano, e pela alta da inflação desde o fim do ano passado, os consumidores estão trocando de marcas, comprando menos ou mesmo não comprando, em quase todas as categorias de produtos. Mas não só por causa dos preços mais altos e da redução do poder de compra. O contexto de crises motivou as pessoas a refletir sobre a própria identidade, seu papel no mundo e o futuro que desejam. Quase todos estão mais conscientes sobre os impactos positivos ou negativos de suas escolhas de consumo sobre a própria saúde, o meio ambiente, a sociedade e a perspectiva de futuro.
A pandemia também trouxe um novo panorama dentro dos setores de mercado. A perspectiva de passar mais tempo em casa e a redução dos ciclos sociais trazem uma necessidade de interação cada vez maior em um ambiente virtual, por meio da realização de compras online e diminuição das visitas físicas a lojas e shoppings. Cada vez mais os consumidores necessitam que as empresas tragam novidades neste campo digital e que sejam experiências personalizadas, de acordo com seus valores e necessidades. Uma experiência única nos canais digitais transforma a percepção do usuário, que passa a detectar oportunidades de redução de custos e maior eficiência em suas compras, com um acesso mais rápido e personalizado aos produtos e serviços que deseja, por meio de automatizações e Inteligência Artificial.
Ficando mais tempo em casa, preparando as próprias refeições, vendo menos os familiares e amigos, e, em muitos casos, trabalhando mais, 75% dos brasileiros ganharam mais consciência sobre o valor do dinheiro a longo prazo. Refletindo mais sobre o futuro e o que é importante para si, muitos colocaram como compromisso pessoal melhorar a maneira como criam seus filhos e como usam a tecnologia para cuidar da própria casa, fazer exercícios e, claro, comprar. Hoje, mais da metade dos entrevistados compra online produtos que antes da pandemia costumavam adquirir presencialmente – 47% em épocas festivas, inclusive.
"Para as classes A e B, vemos uma mudança menos palpável, em que continuam com suas rotinas e hábitos de consumo, uma vez que são consumidores que ainda buscam produtos considerados premium, nos quais a principal característica é a perspectiva de qualidade e o alinhamento aos valores que estes clientes têm como diretriz - como sustentabilidade, produtos que promovam a saúde e o bem-estar, produtos orgânicos", contextualiza Cristina. Na visão dela, os consumidores das classes A e B, diante de uma situação econômica eventualmente desfavorável, tendem a reduzir seu consumo, preservando seus valores e fidelidade às marcas, em vez de migrarem para produtos mais em conta.
No livro "Por uma vida mais simples", que trata da simplicidade voluntária no Brasil e no mundo, o colunista de AMANHÃ André D´Angelo afirma que muitas pessoas repensam suas vidas e seus hábitos de consumo depois de crises pessoais ou coletivas. Foi o que se verificou em eventos como a crise do petróleo nos anos 1970, o colapso da bolsa de Nova Iorque em 1987, o estouro da bolha das ponto.com em 2000, e a quebra do mercado financeiro, em 2008. Ou, nos casos pessoais, a perda de um familiar, uma demissão ou uma doença grave.
"A pandemia foi uma crise coletiva e mundial, sobre a qual assomaram crises pessoais, e certamente teve esse poder de mudar hábitos e mentalidades. No caso específico das classes A e B, penso que o home office é o grande divisor de águas", identifica. Afinal, sair para trabalhar implica várias coisas: deslocamento em carro próprio, roupa e maquiagem adequadas, alimentação etc. E uma vez que o profissional tem a chance de ficar em casa, elimina praticamente todas essas preocupações, e se torna bem menos sensível aos estímulos de consumo ligados a essas categorias de produtos. Em compensação, fica mais atento ao conforto doméstico, tem mais tempo de navegar na internet sem medo de ser flagrado pelo chefe e, com isso, explorar outros interesses. Ao afirmar que a perspectiva muda, D´Ângelo não sabe dizer, no entanto, se ela necessariamente se dá na direção da frugalidade, mas a mudança é palpável. "A perspectiva muda. Não sei dizer se ela necessariamente se dá na direção da frugalidade, mas que há uma mudança, creio que há", aponta D´Angelo.
Esse conteúdo é parte integrante do caderno Top of Mind RS 2022, publicação do Grupo AMANHÃ. Consolidado como uma espécie de Oscar das marcas mais lembradas pelos consumidores do Rio Grande do Sul, o Top of Mind, realizado desde 1991, é pioneiro no país.
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