Como um evento com mais de 100 mil pessoas transfere a experiência presencial para o digital?

Há quem prefira o contato físico e a troca de cartões, mas o formato on-line da Web Summit também gera novas oportunidades
A maioria dos participantes passa boa parte de seu tempo usando a ferramenta Mingle, como fez AMANHÃ ao entrevistar o engenheiro de software João Monteiro, de Portugal

Em grandes eventos e feiras, o acaso costuma exercer um papel muito importante. A casualidade de um encontro entre estandes e corredores pode ser o início de uma parceria entre investidores e startups, por exemplo. Negócios se fecham e ideias surgem porque participantes estavam na hora certa, no lugar certo. Mas, em meio às regras de distanciamento social, é possível transferir esse tipo de experiência para o meio digital?

A edição deste ano da Web Summit é uma prova disso. Quem trocou as aglomerações de 2019 na Altice Arena, em Lisboa, para o ambiente on-line segue participando da dinâmica de palestras, aulas e networking. Há, ainda, novas ferramentas que somente são possíveis no meio digital. Uma delas, talvez a mais popular da programação, é a função "Mingle" (que pode ser traduzida como "Misturar-se").

Na prática, é uma espécie de Chatroulette (site que aleatoriamente conecta em vídeo duas pessoas ao redor do mundo), mas voltado ao ecossistema de startups. Em entrevista nesta quinta-feira (3), o CEO da Web Summit, Paddy Cosgrave, reforçou que "a maioria dos participantes passa boa parte de seu tempo usando essa ferramenta". "Isso permite que as pessoas façam um bocado de networking em um curto espaço de tempo", afiançou.

A ideia é simples e muito bem executada: são rodadas rápidas de três minutos, que reúnem dois participantes. O match cruza interesses em comum e áreas de atuação. Os dados de contato do usuário aparecem na tela, com links para redes sociais e e-mail. Se houver interesse, ambos podem se conectar e a conversa segue — podendo durar muito mais do que os três minutos iniciais.

Um dos exemplos é o do engenheiro de software João Monteiro (foto). Atualmente desempregado, o português viu na Web Summit uma possibilidade de conhecer empresas com demanda de mão de obra especializada em tecnologia. Deu certo. "Conheci uma empreendedora francesa, cuja empresa está com uma vaga aberta na minha área. Já me conectei a ela no LinkedIn e mandei meu currículo", contou, ressaltando que esse tipo de interação tão direta seria difícil no ambiente presencial.

Foco na essência
Na avaliação do Chief Strategy Officer (CSO) da BriviaDez, Roberto Ribas, a Web Summit tem conseguido preservar a dinâmica dos outros anos, com palestras curtas e possibilidade de interação do público. "O principal foco é manter a essência do evento. Se ele se propõe a entregar conteúdo e informação, é nisso que ele deve focar — seja on-line ou presencial", pontuou. Ele mencionou ainda o Festival Internacional de Criatividade de Cannes como sendo outro exemplo bem-sucedido.

No entanto, ainda há desafios importantes no caminho. "É preciso de uma infraestrutura tecnológica gigantesca para conseguir entregar esses streamings simultâneos o tempo inteiro. O evento tem conseguido superar isso, apesar de alguns 'soluços', principalmente na parte da manhã de ontem", apontou Ribas.

Para o executivo, há uma grande oportunidade de se realizar eventos dessa magnitude no ambiente on-line. "É possível utilizar o digital para amplificar a essência do encontro, fazendo algo a mais do que o físico permite", destacou. Para o pós-pandemia, fica a lição: em vez de escolher entre o digital e o físico, o ideal é usar o que de melhor cada uma dessas experiências pode proporcionar.

*O Grupo AMANHÃ está presente em mais uma edição da Web Summit. A curadoria da cobertura tem a assinatura da BriviaDez com geração de conteúdo da Critério — Resultado em Opinião Pública.

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Quinta, 21 Novembro 2024

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