2026: a China promete grandes emoções

País se fortalece para colocar em prática a sua estratégia de ampliação da utilização mundial do yuan
Pensando em termos mundiais, quanto do total de US$ 6 trilhões de importações e exportações da China serão pagos e recebidos em yuan a partir do próximo ano?

Confesso que está cada vez mais difícil acompanhar o que ocorre na China, pois todos os dias há uma avalanche de notícias surpreendentes. Quando comecei a acompanhar o que saía a respeito da China, em 1984, era raro ter alguma matéria nos jornais – e quando havia, em geral era negativa. Lembro-me da primeira reportagem do Globo Rural sobre a China, no final de 1986, com a TV brasileira mostrando as áreas agrícolas do país. Aquilo foi impactante.

Agora, fechando o ano de 2025, alguns fatos da China que impactarão decisivamente o mundo nos próximos anos, a começar pela compra de ouro da Rússia em grande escala, US$ 961 milhões em novembro e US$ 930 milhões em outubro, totalizando no ano 250 toneladas, segundo estimativas/especulações do mercado. Obviamente a China não confirma tais números, para não passar recibo de suas ações estratégicas e não inflacionar ainda mais o preço do metal, que aumentou 70% em um ano: subiu de US$ 2.588 no Natal de 2024 para os atuais US$ 4.464 – o desejo de alguns operadores é que a "onça troy" chegue a US$ 4.900 ou até US$ 5.000 no próximo ano.

Essa agitação no mercado mundial do ouro impacta diretamente o Brasil, dada a sua importância enquanto produtor e exportador (inclusive clandestino) do metal. E tanto ouro permitirá à China lastro suficiente para avançar na utilização do yuan em substituição ao dólar, nos negócios com muitos países com os quais têm relações significativas, como o Brasil, por exemplo. A balança comercial dos dois países aproxima-se dos US$ 200 bilhões. Pensando em termos mundiais, quanto do total de US$ 6 trilhões de importações e exportações da China serão pagos e recebidos em yuan a partir do próximo ano? E quanto o avanço chinês resultará em encolhimento da participação do dólar nas transações mundiais?

Ao comprar tanto ouro da Rússia, a China não apenas se fortalece para colocar em prática a sua estratégia de ampliação da utilização mundial do yuan, como fortalece também a economia russa, hoje com bloqueios significativos na Europa e Estados Unidos, em função da guerra com a Ucrânia. Para o Brasil, em termos práticos, tais movimentos geopolíticos, econômicos e comerciais favorecem a exportação de mais minérios e carnes e dificultam a importação de fertilizantes, cujos novos preços e disponibilidade têm criado dificuldades adicionais para os produtores de grãos.

Infelizmente, o Brasil não consegue entrar nessa movimentação de pesos-pesados da economia mundial por estar fora do bloco dos dez maiores da indústria; ter pouquíssimas ferrovias; taxa de juros muito acima do que é praticado pelos demais países; e exportar commodities para um único comprador de mais de metade do total vendido (caso da soja e do minério de ferro). Tudo isso nos coloca em situação vulnerável na relação com a China, e, por extensão, também com os Estados Unidos, a Europa e a Rússia.

Reforma e abertura
Comparada com o impacto que a grande compra de ouro e o aumento da utilização do yuan causaram e continuarão causando na economia e no comércio mundiais, as novidades significativas da província de Hainan, no Sul da China, agora em dezembro, passaram praticamente despercebidas, apesar das inovações que representam e do simbolismo da data.

Começou a funcionar no dia 18 de dezembro, a "operação alfandegária especial" no Porto de Livre Comércio (FTP, na sigla em inglês) de Hainan, exatos 47 anos após a inauguração do evento (3ª Sessão Plenária do 11º Comitê Central do Partido Comunista da China), que marcou o início das mudanças radicais da China. Para o governo chinês, "em um contexto de crescente tendência do unilateralismo e protecionismo (mundial)" o porto de Hainan atuar assim reforça o processo de reforma e abertura do país, iniciado em dezembro de 1978.

Logo depois, no dia 21 deste mês, o Porto de Hainan inaugurou a rota áerea da empresa SCAT Airlines, do Cazaquistão, direta para um país estrangeiro – no caso, a República Tcheca – sem necessidade de passar pelo país de origem, o que é considerado um avanço em termos de abertura do setor de aviação da província. Informamos o início da construção do porto de livre comércio da ilha de Hainan no Portal AMANHÃ em 2020, caracterizando-o como um contraponto estratégico a Hong Kong. Conforme Hainan vá se consolidando, o governo chinês deverá aumentar a fiscalização sobre as empresas da China continental registradas em Hong Kong, entre outros aspectos. 

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Terça, 23 Dezembro 2025

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