China abraça a América Latina com Yuan, tecnologia e petróleo
Coincidências não existem em geopolítica, economia e comércio mundiais. Ainda mais em se tratando de Estados Unidos (EUA) e China no final do tumultuado ano de 2025. Por isso, o fato da China lançar documento sobre a sua política para a América Latina e Caribe no dia 10 de dezembro com um conjunto de diretrizes e propostas de ações para ampliar significativamente a cooperação com os países da região, uma semana após os EUA terem divulgado o "National Security Strategy", no qual assumem o "America First" e a América Latina como prioridade, só confirma o que o documento do governo Trump destaca: a China é "o" adversário, em todos os sentidos.
A leitura comparada dos dois documentos revela de imediato a diferença de tom: enquanto o dos EUA é ostensivamente belicoso, o da China expressa postura solidária com o desenvolvimento e a qualidade de vida dos mais de 660 milhões de habitantes dos 33 países da região. A leitura dos "cinco programas" propostos pela China para formar uma comunidade com futuro compartilhado com os países da América Latina e Caribe, revela a profundidade e a extensão que se pretende alcançar de desenvolvimento humano pleno, via diplomacia, intercâmbios e cooperação intensa.
Dos cinco programas, quatro proporcionarão grande impacto positivo para a conectividade entre os povos, a paz, a solidariedade e a civilização, através de 27 ações específicas. Além dessas, há mais 17 ações do programa de desenvolvimento econômico e comercial, cujo objetivo principal é a cooperação entre a China e países da região, em todas as áreas importantes, da construção de infraestrutura à inovação científica e tecnológica. O documento chinês dá importância para a geração de empregos nos países da região e destaca que apoiará para elevarem a sua capacidade de desenvolvimento independente e sustentável.
Chamam a atenção o caráter egoísta explícito da política externa dos EUA, e a postura oposta da China, que afirma, no preâmbulo do documento, considerar que já concluiu "a construção de uma sociedade moderadamente próspera em todos os aspectos" – não cita, mas certamente refere-se aos 800 milhões de pessoas que saíram da pobreza no país desde 1980 –, e que "concretizou a primeira meta centenária, e está promovendo a construção de um grande país e a revitalização nacional em todas as frentes por meio de modernização chinesa."
Infelizmente, o documento do governo Trump é mais do mesmo em relação à América Latina e Caribe, desde a abusiva "Doutrina Monroe" (1823), declarando que todo o continente americano era deles – daí a referência à América do Sul como "quintal" dos EUA. Coisas da diplomacia: sem citar países, o documento chinês refere-se a "(...) ações unilaterais de intimidação sistemática prejudicando a paz e segurança internacional".
Colocando-se em contraposição às posturas do governo Trump, a China posiciona-se como "país em desenvolvimento e membro do Sul Global" e nessa dupla condição afirma em seu documento que "(...) sustenta firmemente a política diplomática independente de paz, pratica os valores comuns da humanidade" e implementa quatro iniciativas globais: do Desenvolvimento (IDG), Segurança (ISG), Civilização (ICG) e Governança (IGG). Além dessas posições e iniciativas, a China "amplia a cooperação Cinturão e Rota de alta qualidade, advoga um mundo multipolar equitativo e ordenado e uma globalização econômica universalmente benéfica e inclusiva, e promove a formação de uma comunidade com futuro compartilhado para a humanidade."
As diferenças entre as posturas dos governos dos dois países, expressas nos documentos, não são apenas de estilo, mas principalmente de concepção de mundo e de visão de futuro. No documento chinês, ainda no preâmbulo, afirmam que a China "(...) compartilha a mesma sorte com os países latino-americanos e caribenhos e os outros países do Sul Global." E que esse (terceiro) documento sobre a política da China para a região visa "(...) assimilar as experiências acumuladas" e "promover as relações e a cooperação China-América Latina e Caribe a subir a novos patamares."
Para isso, assegura que continuará, com base "no princípio de benefício mútuo", o estabelecimento de relações comerciais estáveis e de longo prazo, com aumento do comércio bilateral. Não diz, mas o 15º Plano Quinquenal (2026/2030) garante que expandirá muito o consumo doméstico, e para isso precisa aumentar e melhorar a logística dos seus fornecedores da América do Sul, para reduzir os custos de transporte e manter baixos os preços dos alimentos e recursos naturais que continuará comprando em grande quantidade – principalmente do Brasil.
Relacionam dez feiras e exposições importantes, para as quais declaram o máximo de interesse na participação das empresas da região: 1) Exposição Internacional de Importação da China; 2) Feira de Importação e Exportação da China; 3) Feira Internacional de Comércio de Serviços da China; 4) Exposição Internacional de Bens de Consumo da China; 5) Feira Internacional de Investimento e Comércio da China; 6) Exposição Internacional da Cadeia de Suprimentos da China; 7) Feira Internacional da Indústria da China; 8) Feira Internacional das Pequenas e Médias Empresas da China; e a 10) Convenção Mundial de Manufatura. Estranhamente, não incluem na lista a "Cumbre Empresarial China-América Latina Y Caribe", cuja 18ª edição esse ano ocorreu em Zhengzhou (cidade-irmã do município catarinense de Joinville), capital de Henan (província-irmã de Santa Catarina).
Mais adiante voltarei a comentar aspectos específicos do documento da China, como o anúncio da maior utilização do Yuan nos negócios realizados com empresas da região, algo inevitável, dadas as dimensões do comércio chinês com o Brasil, México, Argentina e outros países. Realmente, o ano de 2026 promete.
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