"Faça menos pelo clima"

Ensinam uma companhia sueca e os fatos recentes no Rio Grande do Sul
Pesquisas indicam que usamos apenas 30% do que temos no armário, a uma média de sete vezes antes de doar ou descartar

Logo que me aproximei do centro de coleta de donativos da Defesa Civil do Rio Grande do Sul, no primeiro sábado pós-enchentes (4 de maio), voluntários já vieram em direção ao carro avisar que não estavam mais recebendo roupas. O motivo era a falta de pessoal para triagem das peças, que chegavam em maior número do que outros gêneros de produtos. Duas semanas depois, os Correios, também envolvidos na entrega de doações, fizeram pedido semelhante: o vestuário constituía 70% do que era levado às suas agênciasNão surpreende. Uma rápida passada de olhos em nossos armários é capaz de identificar vários itens sem uso há tempos ou em duplicidade. As estatísticas variam entre 80 bilhões e 150 bilhões de indumentárias produzidas anualmente no mundo, o que permitiria abastecer cada um dos seres humanos do planeta com 10 a 19 peças todo ano. Aquilo que não é vendido acaba em lixões no Atacama (Chile) e em Acra (Ghana) a um ritmo de 100 toneladas despejadas ao dia, perfazendo mais de 5% do total de dejetos acumulados globalmente.

Não parece, mas a indústria da moda é a segunda mais poluente do planeta. E se parte da responsabilidade cabe à grande indústria, que tem diminuído a qualidade do que produz e estimulado a renovação frequente das coleções, outra compete aos consumidores, que introjetaram acriticamente o gosto pela novidade. Pesquisas indicam que usamos apenas 30% do que temos no armário, a uma média de sete vezes antes de doar ou descartar. Resultado: "nenhuma medida ambiental pode mitigar" os efeitos da fabricação de vestuário nos patamares atuais, segundo uma professora holandesa. Na França, a lei de Responsabilidade Ampliada do Produtor (RAP) obriga a indústria têxtil a dar um destino dentro do país às peças encalhadas, proibindo a exportação. Elas podem ser doadas, recicladas ou revendidas em brechós – mas mandadas para lixões do exterior, não. A Patagonia conserta suas peças danificadas e incentiva que consumidores aprendam a fazê-lo por conta própria. Confecções de slow fashion produzem poucas unidades de cada modelo, porém duráveis.

Mas é insuficiente."O problema não tem que ver com o que é ou não (tecido) orgânico; simplesmente há roupa demais", diz a integrante de uma ONG que trabalha junto a um dos depósitos na África. As atenções deveriam estar voltadas à uma redução drástica da produção, o que num contexto mais amplo de revisão dos desafios ambientais é chamado de decrescimentoUma proposta resumida assim por um anúncio da Göteborg Energi, empresa pública de energia da Suécia (Valor, 10/05/24): "Faça menos pelo clima – comprando menos, comendo menos carne, usando menos plástico, fazendo menos viagens de longa distância e, claro, usando a eletricidade de forma mais inteligente". E comprando menos roupas, que tal?

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Comentários: 1

Ceres de Azevedo em Sábado, 01 Junho 2024 10:33

Menos é mais! Minimalismo precisa ser incorporado urgentemente.

Menos é mais! Minimalismo precisa ser incorporado urgentemente.
Visitante
Quarta, 26 Junho 2024

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