Tem PPR no céu?
Henry Mintzberg acha uma bobagem pagar bônus a CEOs pelo desempenho das empresas. Segundo o professor e pesquisador, o trabalho de um dirigente empresarial deveria ser avaliado por sua contribuição para o longo-prazo da companhia, bem mais difícil de mensurar do que trimestres e anos fiscais terminados no azul ou no vermelho.
Se medir o impacto de um executivo anos ou décadas depois que deixa o cargo é difícil, que dirá fazê-lo com aquele que comanda uma instituição cujo horizonte de tempo são séculos. Pois é com este desafio que comentaristas têm se debatido desde a morte do Papa Francisco, na última segunda-feira (22).
Iniciativas tomadas no papado de Jorge Mario Bergoglio podem só vir a frutificar daqui a gerações, quando caberá aos livros de História, e não a qualquer pessoa viva atualmente, o reconhecimento de seus méritos. De toda sorte, Bergoglio foi, sob vários aspectos, um CEO da Igreja antenado com seu tempo.
Primeiro, no naming, a escolha da maneira como seria chamado durante seu pontificado. Ao optar por Francisco, o santo dos pobres, o argentino cumpriu a ideia de que bons nomes dispensam a propaganda, pois são suficientes para comunicar ideias e ideais. Ponto para ele.
Considerando que, ato contínuo, abriu mão de privilégios papais típicos, como residência suntuosa, crucifixo de ouro e carros luxuosos, além de ter simplificado o próprio funeral, fez da prática coerente com o posicionamento que escolhera para si e para a entidade que comandava. Ponto de novo.
Ao longo dos seus 12 anos de mandato, Francisco deu atenção às questões ambientais, a grupos menos representados na Igreja (mulheres, homossexuais, imigrantes) e tornou mais transparentes o Banco do Vaticano e o enfrentamento de temas sensíveis, como pedofilia. Mais ESG, impossível.
Foi incentivador de um catolicismo "em saída", que vai ao encontro da população, conhece sua realidade e a convida a participar da vida eclesiástica. Parecido com aqueles presidentes que encostam a barriga no balcão e fazem questão que, de tempos em tempos, seus executivos façam o mesmo, para não perderem o contato com o consumidor. Bem alinhado às práticas de gestão modernas.
Como todo CEO, sabia que seu trabalho era parte inspiracional, parte gerencial e parte político. Daí ter nomeado mais de 100 cardeais entre os 136 que, agora, irão eleger seu sucessor. Supõe-se que alinhados à sua maneira de pensar e dispostos a entronizar um substituto de mesmo mindset, o que indica visão de longo-prazo e foco na perenização da instituição.
Por fim, como todo CEO de multinacional, sabia ser diplomático. Para não melindrar o maior mercado católico do mundo, saiu-se com uma boutade simpática: "o Papa é argentino, mas Deus é brasileiro".
Orgulhoso, o presidente do conselho deve tê-lo recebido de braços abertos no céu.
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