Brasil detém a segunda maior reserva de terras raras do mundo
O Brasil é o maior detentor global de reservas de nióbio (94%) – com 16 milhões de toneladas. No ranking global, é o segundo maior em reservas de grafita, com 74 milhões de toneladas (26%), e de terras raras, com 21 milhões de toneladas (23%). No caso do níquel, o Brasil possui a terceira maior reserva global, com 16 milhões de toneladas (12%) das reservas mundiais. Os dados são apresentados na publicação Uma Visão Geral do Potencial de Minerais Críticos e Estratégicos do Brasil, do Serviço Geológico do Brasil (SGB). Inácio Melo, diretor-presidente do SGB, acredita que o protagonismo do Brasil na produção de ETR é inevitável. "O Brasil se tornará o maior produtor global de Elementos Terras Raras (ETRs)", prevê.
Para ele, os desafios para as próximas décadas são ampliar o conhecimento geológico e transformar o enorme potencial geológico dos recursos minerais estratégicos em reservas minerais explotáveis e bem conhecidas. "Precisamos descobrir novas ocorrências e superar as limitações tecnológicas e logísticas", sugere Melo. Apesar do potencial mineral, o país produziu, no ano passado, apenas 20 toneladas de terras raras, menos de 1% da produção mundial, que foi de 390 mil toneladas. Atualmente, a China detém uma posição dominante não apenas nos volumes de suas reservas e produção de elementos terras raras, mas, sobretudo, na cadeia tecnológica de separação e refino para obtenção de óxidos de alta pureza (em inglês, REO).
O termo técnico reserva mineral refere-se à porção economicamente explotável de um recurso mineral medido ou indicado, demonstrada por estudos técnicos (pré-viabilidade ou viabilidade). No caso da maior parte dos ETR do Brasil, o mais adequado é aplicar a terminologia recurso mineral, que é uma concentração ou ocorrência com interesse econômico na crosta terrestre, cuja quantidade, qualidade, continuidade e distribuição são conhecidas ou estimadas com base em evidências geológicas, mas que ainda não é viável economicamente ou apresenta estudos em andamento.
A maior parte dos recursos medidos de ETRs no Brasil está concentrada, principalmente, nos estados de Minas Gerais, Goiás, Amazonas, Bahia, além de Sergipe. Esses estados abrigam os principais tipos de depósitos com potencial econômico de ETRs, conforme levantamentos do SGB, da Agência Nacional de Mineração (ANM) e de estudos técnicos consolidados. Os elementos de terras raras são usados para melhorar a eficiência de diversos produtos de alta tecnologia e de energia limpa, com destaque para a aplicação em turbinas eólicas e motores elétricos, além da aplicação em equipamentos aeroespaciais, como satélites, foguetes e mísseis. Os elementos têm altas propriedades magnéticas, elétricas, catalíticas e luminescentes.
Pesquisas sobre ETR
O SGB desenvolve estudos para identificar áreas com potencial e impulsionar o desenvolvimento da cadeia de valor de terras raras. A principal iniciativa é o Projeto de Avaliação do Potencial de Terras Raras no Brasil, inserido na linha de atuação "Minerais Estratégicos para Transição Energética", dentro da Ação do Programa de Aceleração do Crescimento-PAC do governo federal. Atualmente, o projeto desenvolve atividades nos estados de Goiás, Tocantins, Minas Gerais, Bahia, Paraná, São Paulo e Santa Catarina. Além desse projeto, há outras pesquisas do SGB relacionadas a terras raras em áreas potenciais dos estados Amazonas, Roraima, Rondônia, Pará e Piauí. A Elevação do Rio Grande também tem sido estudada. Em todo o país, o SGB realiza pesquisas sobre o potencial mineral e identifica áreas com indícios favoráveis à presença de elementos terras raras e outros minerais estratégicos. No Rio Grande do Sul, três universidades estão desenvolvendo um estudo em Caçapava do Sul que já descobriu que os solos da região apresentam concentrações de terras raras até e seis vezes mais que os da China, como revelou o Portal AMANHÃ.
Em Araxá (MG) está a única reserva oficialmente reconhecida de terras raras do Brasil. Os minerais com terras raras nas rochas alcalinas são a apatita e calcita. Na região de Poços de Caldas (MG) há diversas empresas de mineração pesquisando para terras raras e já identificaram recursos de 950 milhões de toneladas com teor de 0,25% de óxidos totais de terras raras (TREO). As pesquisas do SGB também indicam ocorrências de terras raras no município de Tapira (MG), conhecido pelas mineralizações de fosfato, nióbio e titânio.
O estado de Goiás é destaque nacional por ter uma mina ativa de elementos terras raras na cidade de Minaçu. Os recursos estimados são de 910 milhões de toneladas. É a primeira mina fora da Ásia a operar um depósito de argila iônica – um tipo de mineralização considerada a principal fonte de terras raras pesadas do mundo e que possui o processo de extração de ETR com maior rentabilidade. Até então, apenas a China produzia terras raras em depósitos desse tipo. A mina de Serra Verde possui recursos medidos de cerca de 22 milhões de toneladas, conforme o relatório técnico da empresa de 2015. Em Nova Roma (GO), há um projeto com recursos de terras raras estimados em 168,1 milhões de toneladas. Além disso, há ocorrências nas regiões de Catalão (GO) e em outros corpos graníticos da Província Estanífera de Goiás (GO).
No Amazonas, há ocorrências identificadas no depósito de Seis Lagos, localizado a 64 quilômetros a nordeste do município de São Gabriel da Cachoeira. Esse é um depósito de nióbio com altas concentrações de terras raras. O recurso estimado é de 43,5 milhões de toneladas de ETR. A região é uma reserva legal indígena, ou seja, a exploração é impedida por restrições legais. O depósito de Pitinga, em Presidente Figueiredo (AM), é também conhecido como distrito de vários bens minerais, dos quais a cassiterita é o bem mineral principal. Os ETRs são encontrados nos minerais xenotima, gagarinita, niobidatos e fluocerita. Desses, a xenotima é o principal mineral com terras raras. Esse depósito é considerado um dos poucos com potencial expressivo de ETRs pesados, mas ainda sem exploração dedicada.
Na Bahia, o Complexo de Jequié tem depósito de bauxita conhecido e recentemente tem se destacado como uma província mineral com mineralizações de alto teor de terras raras (11,2% de TREO) associados a outros bens minerais como nióbio, urânio, tântalo, escândio, bauxita e gálio no Projeto Pelé. O depósito pesquisado pela Brazilian Rare Earth tem mineralização associada a rocha com teor de até 40,5% de TREO no Projeto Velhinhas e em rocha alterada, denominada areais de monazita que chegam a teor de 7,9% no projeto Pelé. Em Sergipe, na porção norte do estado, há depósito de monazita em minerais pesados em antigos cordões litorâneos e dunas do delta do Rio São Francisco.
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