Quais os riscos de investir em CDBs de longo prazo?
Quem é novo no mundo dos investimentos ou já está por aqui há algum tempo deve ter reparado que, recentemente, aumentou a oferta de Certificados de Depósito Bancário (CDBs). A nova emissão desses títulos tem prazos de vencimento mais longos que a média e taxas de retorno que enchem os olhos. Geralmente esses CDBs são emitidos por instituições financeiras menores. Mas por que acontece esse movimento? Segundo Jayme Carvalho, economista-chefe da SuperRico, o lançamento desses títulos mais rentáveis está ligado a quatro fatores: o patamar elevado da Selic, a taxa básica de juros do Brasil; a garantia do Fundo Garantidor de Crédito (FGC); a facilidade de se investir neles e a demanda por crédito por parte das instituições financeiras. Conjugados, os fatores resultam em mais opções para os investidores. Ainda assim, quantidade não é qualidade, e é necessário avaliar cada ativo em seu próprio contexto.
Um CDB de longo prazo é um empréstimo feito por uma pessoa física a uma instituição financeira. Quando o investidor deposita o dinheiro, recebe um título com um vencimento e uma rentabilidade. Essa rentabilidade pode ser:
Pós-fixada, que acompanha a taxa Selic. Adequada para investidores mais conservadores, já que esse tipo de título tem menos riscos e acompanha a Selic;
Prefixada, em que o rendimento anual é definido no momento do aporte. É mais indicado para momentos de expectativa de corte na Selic ou para vencimentos curtos, de até dois anos;
Híbrida, que, geralmente, corrige o valor investido pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a inflação oficial do Brasil, acrescido de um porcentual real. Além de manter o poder de compra, há uma margem de lucro;
Quando a data de vencimento do CDB chega, a instituição que o emitiu o papel deve devolver o valor aplicado e o rendimento prometido. E, aí, entra a questão do tempo. É preciso ter atenção para não deixar seu dinheiro travado por mais tempo do que você pode.
No entanto, existem CDBs que oferecem a possibilidade de resgate antes do prazo. Alguns oferecem liquidez diária. "CDBs de liquidez diária têm rendimento menor, já que você pode resgatá-los a qualquer momento. Já os fechados, de médio e longo prazo, vão pagar mais porque eles têm a certeza de que o dinheiro ficará lá até o vencimento. Até é possível retirar antes, mas tem um deságio muito grande que não compensa", explica Nayra Sombra, sócia da HCI invest e planejadora CFP pela Planejar.
Via de regra, quanto menor a instituição financeira, maior é o risco de um calote no investidor. A chance de um emissor não pagar o que prometeu é conhecida como risco de crédito. Em outras palavras: o risco de crédito é a probabilidade de uma instituição financeira não honrar seu compromisso com seus credores. Por isso, esses bancos menores e corretoras precisam compensar a confiança de seus investidores que, apesar do risco maior, optaram pelo seu título. Até porque os bancões também emitem CDBs. "Como as instituições de porte menor têm menos reputação que as maiores, precisam de algum diferencial que atraia os investidores", diz a planejadora.
O prêmio é mais rentabilidade no ativo. Quanto mais consolidada a instituição, menor o risco de crédito e, portanto, menor o rendimento dos seus CDBs. "Os grandes bancos e corretoras captam dinheiro sozinhos. Suas propagandas e suas marcas dão mais certeza e conforto para quem vai colocar o dinheiro lá. E, se há menos medo, as taxas de rendimento também são menores", acrescenta.
Apesar do risco de crédito, vale a pena investir em um CDB de longo prazo?
O maior risco de um título bancário é o de crédito. Mas, se o investimento for de até R$ 250 mil por CPF ou CNPJ em uma instituição financeira, ele é resguardado pelo FGC. O detentor de um título coberto pelo FGC receberia o valor investido (acrescido do rendimento) de volta, mesmo em caso de calote, pois o fundo "banca" esses ativos. Há mais uma condição para a cobertura do FGC: cada CPF ou CNPJ só se pode receber como cobertura R$ 1 milhão do fundo a cada quatro anos. Para Nayra, uma das vantagens dos CDBs é que eles têm um rendimento diário, ou seja, todo dia, ele rende alguma coisa.
É diferente das poupanças, por exemplo, que têm uma data de aniversário. Funciona assim: se você aplica o dinheiro em uma poupança no dia 29 de outubro, é preciso esperar até 29 de novembro para que o dinheiro renda. Antes disso, somente o montante inicial será resgatado, sem nenhum ganho. Já um CDB renderia algo todos os dias. As garantias do FGC dão muita segurança para qualquer investidor que cumpra os requisitos do Fundo. É por isso que, para ela, os CDBs são tão apropriados para todos que investem: têm rentabilidade diária e uma margem grande de proteção contra o risco de crédito. "Ele serve para muitos momentos, como a reserva de emergência e os investimentos de médio e longo prazo", afirma.
O que considerar antes de investir em um CDB de longo prazo?
"Como a garantia do FGC é limitada, é importante se atentar ao emissor e ao valor investido, que não deve exceder R$ 200 mil. E por que esse valor? Porque enquanto o dinheiro estiver no título, ele estará rendendo. Então, se o investidor quiser a cobertura do FGC até o teto, é preciso investir um valor menor para que a rentabilidade somada ao principal não ultrapasse os R$ 250 mil do limite", recomenda a especialista. O CDB de longo prazo, assim como outros investimentos, é um instrumento de renda fixa. Por isso ele tem algumas condições. Se tiverem liquidez, são ótimos para reserva de emergência. Se não, são apropriados para investimentos de renda fixa onde se busca diminuir a volatilidade de uma carteira, aconselha o economista-chefe da Super Rico.
Atenção: a renda fixa também varia
Carvalho alerta que os investidores devem se atentar à volatilidade natural do mercado. Mesmo que tenham o nome de renda fixa, o preço dos títulos pode variar a depender das expectativas do mercado quanto à taxa de juros futura. Nesse caso, se o investidor quiser resgatar o dinheiro antes do vencimento, poderá receber um valor maior ou menor do que estava esperando no dia que comprou o CDB. "É possível que se fixe uma taxa determinada e o mercado mude em seguida [o que muda o preço do ativo], e isto não está no controle de ninguém. A mudança pode ser boa ou ruim para o investidor, então, antes de fazer um aporte de longo prazo é necessário fazer um planejamento financeiro e de investimentos, além de ter uma reserva de emergência", afirma.
No caso dos títulos pós-fixados, que seguem a Selic, o rendimento vai variar de acordo com as alterações da taxa básica. Ou seja: se a Selic cair, o CDB vai render menos, e se a Selic subir, vai render mais. Já no caso dos títulos prefixados ou híbridos, no entanto, é o preço do título no mercado secundário que vai variar de acordo com as mudanças na Selic. Via de regra, quando a Selic é reduzida, o preço desses ativos sobe. Quando a Selic cai, o preço do CBD sobe. Isso significa que, se o investidor decidir resgatar antes do prazo, estará sujeito a essas oscilações, que podem beneficiar ou prejudicar o investidor. Vale lembrar que, se mantido o papel até o prazo de vencimento, a rentabilidade será aquela contratada no momento da compra do CDB. No curto prazo, essa variação é menor que as das ações da Bolsa de Valores, por exemplo. Mas, a depender do tamanho da posição e dos rumos da política monetária, é possível que um patrimônio alocado em títulos públicos e privados se valorize muito com uma mudança de perspectiva – ou veja seu valor de mercado ser depreciado.
Com Redação da B3
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