Para não enlouquecer

É claro que uma viagem não é uma provação tão extrema quanto a navegação solitária de Amyr Klink à Antártida. Tampouco se trata de uma temporada na solitária da cadeia onde só se ouve o eco das próprias palavras e indagações, sem ter com quem dividi-...
Para não enlouquecer

É claro que uma viagem não é uma provação tão extrema quanto a navegação solitária de Amyr Klink à Antártida. Tampouco se trata de uma temporada na solitária da cadeia onde só se ouve o eco das próprias palavras e indagações, sem ter com quem dividi-las. Mesmo assim, se você passou dos 60 anos, tem um orçamento para respeitar e escolhe se locomover nos confins do Leste da Europa no inverno, digamos que você tem de ter um mínimo de estrutura interna para ver a soma das semanas se transformar em mês. Mas não importa o quão experiente você seja, o certo é que convém observar pequenas rotinas que ajudem a atravessar os inevitáveis momentos de moral baixa. 

a) Vá para a cama cansado – Perder o sono e se emaranhar em reflexões áridas e negativas é a pior das coisas. Mesmo porque o isolamento magnifica o que não vai bem e você pode sucumbir a uma noite em claro que vai comprometer o rendimento do dia  seguinte. Portanto, se você não for grande esportista, programe seu celular para cobrar o cumprimento de pelo menos 10 mil passos de caminhada ao dia. Não é marca olímpica, mas já garante um mínimo de possibilidade de você adormecer mais cedo e conciliar um sono reparador quando a hora bater;    

b) Ritualize o momento das refeições – Pouco importa se você vai comer bem, com estilo, ou se vai se contentar com um fast food. Importante aqui é você ritualizar ao máximo esse encontro com você mesmo, na hipótese de estar sozinho. Se der, tome um banho antes, e não consulte o telefone nem leia enquanto come. Coma devagar e trate de apreciar o ambiente. Imagine que é um repórter em serviço na Coreia do Norte e que não pode fazer anotações. Então preste atenção a todos os detalhes, até aos mais banais, como se sua vida dependesse disso;   

c) Procure conversar com as pessoas jovens – Nem sempre os mais velhos estão abertos a papear em lugar público com desconhecidos. Em determinadas partes do mundo onde imperou por muito tempo a cultura do medo, essa atitude representa sério freio cultural. Mas os jovens, pessoas de mais ou menos 30 anos, podem ser um ponto de apoio interessante para discutir sobre a ponte entre o passado e o futuro, que segue sendo um dos aspectos mais interessantes do aprendizado. Bombardeie-os com perguntas e se prepare para surpresas;  

d)  Alterne a programação – Sempre que der, mescle programas indoors com os outdoors. O clima pode tornar isso inevitável sempre que se tratar de fugir do frio ou do calor extremo. Importante é não passar o dia todo enfurnado dentro de museus ou igrejas. Quanto mais houver de natureza, melhor será seu astral. Salvo, bem entendido, que esteja rolando uma exposição que, no fundo, tenha sido a razão principal de sua viagem. Com o tempo, as maratonas etílicas da juventude ficam para trás e mesmo o melhor vinho não prescinde de caminhadas...e de muita água;         

e) Cultive um atividade extra-viagem – Pinte, borde, cozinhe, fotografe, escreva, enfim, faça qualquer coisa em base regular que o leve a ter também nesse terreno um encontro consigo próprio. Não sou grande defensor de que devamos nos entregar aos filmes, por mais tentadoras que sejam as séries. Sua atividade tem de ter uma marca autoral e você tem de gostar tanto dela a ponto de ignorar o cansaço e cavar mais meia horinha para finalizá-la. Em suma, ela dá pano de fundo para você estruturar sua rotina e renovar todo dia o prazer – que é o princípio de tudo. E, assim, para você cultivar seu jardim secreto.

Isso dito, boa viagem. 

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Quinta, 18 Abril 2024

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