O amor em tempos de coronavírus

Em plena quarentena, ela deixou-o sozinho em Joinville e foi ficar com as irmãs no litoral catarinense

Conheço casais que devem estar passando por momentos de provação aguda nesses tempos de confinamento. E também alguns para quem o convívio compulsório, dia após dia, parece ser um enorme bálsamo. Comecemos com um caso bom. No Facebook, leio o que diz Helena, confinada em Nova Friburgo com o marido. "Encontramos a casa meio desorganizada, mas em 24 horas Paulo deixou-a no ponto ideal: limpa, arejada e acolhedora. Às vezes acho que não poderia ter casado com outro homem, e isso não é lá tão óbvio depois de 41 anos de união. Com ele, assisto a seriados, passeio no jardim e janto frugalmente a sopa noturna, antes de um copo de vinho no terraço. Dizer que adoramos o confinamento é um absurdo. Mas negar que ele nos traz uma indescritível sensação de paz interior é apenas a mais pura verdade."

Já Grace e Leandro – digamos que aqui eu lhes dei nomes fictícios – não se bicam há quase cinco anos. Depois de décadas de harmonia aparente, uma quebra financeira levou-a questionar seriamente os fundamentos em que se assentava um lar tido por todos como feliz. Por outro lado, a separação seria onerosa e fragilizaria os filhos do casal, ainda muito dependentes da união dos pais – nem que esta fosse apenas aparente. O rapaz por conta das drogas. A filha devido à instabilidade emocional, na esteira de um sequestro-relâmpago. Antes do confinamento, tudo era mais fácil. As vidas eram tocadas em paralelo sob vários aspectos. Agora, não mais. A tensão é insuportável e até o cachorro sente alívio quando sai para um passeio. O clima está irrespirável entre eles e já são os filhos que querem a separação quando a paz voltar às ruas.

Lúcio e Claudia (aqui vão nomes ficcionais de novo, me desculpem, mas não pode ser de outra forma) têm união estável há cinco anos. Ele tudo faz para ela, talvez por achar que os dez anos que os separam autorizam um a ser protetor e a outra, perdoe-me ela que o diga, infantil e voluntariosa. Em plena vigência do isolamento social, ela deixou-o sozinho em Joinville e foi ficar com as irmãs no litoral catarinense, por achar que seria menos monótono, e que ele, bem ou mal, se viraria com filmes e a família – já que ficou com o cachorro e tem mãe viva. Ao telefone, ele me pareceu mais triste do que preocupado. "Faço tudo por ela. Agora estou relegado à companhia dos móveis. E ainda fico preocupado com ela. Sabe-se lá se está respeitando o isolamento..." Vendo o lado bom, o coronavírus pode ser o teste de ouro do amor de verdade. E o fim da ilusão.

Veja mais notícias sobre Comportamento.

Veja também:

 

Comentários:

Nenhum comentário feito ainda. Seja o primeiro a enviar um comentário
Visitante
Quarta, 24 Abril 2024

Ao aceitar, você acessará um serviço fornecido por terceiros externos a https://amanha.com.br/