Pra não dizer adeus
"A maior virtude de um chefe é saber demitir", dizia Roberto Marinho. Pode até ser verdade, mas outra qualidade, tão importante quanto, deveria merecer atenção: saber contratar. Não apenas no que diz respeito à qualidade dos profissionais recrutados, como também ao dimensionamento do número de colaboradores necessários. Afinal, gente em excesso é o pretexto perfeito para um downsizing e um trauma organizacional subsequente.
O comentário vem a propósito de uma série de demissões em startups do mundo todo, muitas das quais anunciadas aos colaboradores por videochamadas, conforme comentado neste espaço semana passada (leia aqui).Expectativas frustradas de crescimento, em decorrência de um cenário externo hostil, têm sido apontadas como a principal razão. Mas será que são a única?
Não exatamente.
Obviamente, todo empresário toma decisões com base em perspectivas sobre o próprio negócio e sobre o mercado em que atua. Quando positivas, é natural que procure aumentar a capacidade de produção ou de atendimento com novos funcionários. Deixar de surfar uma onda de bonança pode significar comprometer o futuro de um empreendimento por anos a fio, visto que janelas de oportunidade não se abrem a toda hora.
O caso das startups, no entanto, parece um pouco diferente. Mais do que responderem a um ambiente econômico e mercadológico propício, atendiam a um cenário de farta disponibilidade de capital de risco para investimentos. Ao recebê-los, ampliavam a equipe para fomentar um crescimento a fórceps, tal qual um motorista que superturbina um carro que não tem estrada onde correr.
Dois especialistas explicam melhor: "Em muitos casos, o crescimento [...] pode ser considerado irresponsável. Talvez não tenha sido proposital: havia liquidez extrema, injeção de capital com força, e a melhor forma de alocar recursos é contratar times grandes e escalar a operação", afirma Lara Lemann, investidora. Porém, "uma empresa não pode se orientar pela necessidade captação: isso deve acontecer quando não há mais recursos, mas há a necessidade de crescer. Com a abundância de capital, a captação puxava o crescimento, aumentava a ambição", completa Pedro Melzer (ambos ouvidos pela revista GQ de agosto).
E é justamente sobre contratações desmedidas que se insurge uma conhecida figura do mundo corporativo, Claudio Galeazzi, consultor especializado em recuperar negócios em dificuldades e tido como um contumaz corta-custos. "A culpa não é de quem demite, mas sim de quem contratou [...] pelo entusiasmo de um momento de vendas intensas [...] sem pensar que esse bom momento não vai perdurar para sempre [...]. (D)epois a situação muda e você tem de readequar. Nesse momento, [...] tem de fazer os cortes. E aí todos falam que o Galeazzi entrou e cortou", lamenta (Época Negócios, fevereiro de 2017).
E há como se prevenir desse mal? Aparentemente, sim – e de maneira bem curiosa. "Não se deve deixar espaço vazio numa empresa", pois "uma área desocupada se transforma num convite ao inchaço na estrutura", afirma o consultor ("Sem cortes", 2019, p. 151).
Para aquelas empresas que ainda contam com sede física, fica a dica.
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