O exílio de Nicolás Maduro
Imagino que o presidente da Venezuela logo perderá as condições de ficar no cargo, se é que já não as perdeu. Mais do que isso, não é difícil concluir que não tardará para que ele perca até mesmo as condições de viver no país, a menos que se resigne a ser preso, o que seria um destino à altura de sua perfídia. Como isso é o pesadelo de todo tirano (e, convenhamos, não precisa ser um tirano para isso), imagino que ele já dedique algumas horas do dia e da noite para organizar a fuga rumo ao exílio. Sobre a mesa de cabeceira, é possível que tenha um caderninho com algumas opções devidamente anotadas, e que seus asseclas estejam acionando regimes amigos para saber se ele é bem-vindo, e em que condições deverá ser acolhido. Assim sendo, supõe-se que esteja financeiramente bem forrado para aguentar os pedágios que o aguardam. Abaixo, pois, algumas das alternativas mais à mão.
A primeira opção é Cuba. Próxima à Venezuela, resta ver se a ilha caribenha saberá ser grata às toneladas de dinheiro com que lhe regalaram os bolivarianos agora em desgraça. Nos tempos das vacas gordas, Chávez era de cama e mesa com os irmãos Castro e até para desencravar uma unha dava um pulo em Havana. Ocorre que se há uma coisa que Cuba aprendeu com mais de meio século de isolamento e boicote, é que seus interesses precisam ser colocados na frente de tudo, inclusive dos escrúpulos, essa desprezível instituição burguesa e antirrevolucionária. Ora, se dar guarita ao seu antigo benfeitor pode lhe valer o olhar enviesado de países como os Estados Unidos e o Brasil, eis um bom motivo para se pensar duas vezes. Assim, é possível que Maduro conheça um calvário parecido com o do Xá do Irã. Que voe de déu em déu por uns tempos até ser sangrado financeiramente.
A segunda opção, se não quiser mudar muito de ares, poderia ser a Nicarágua. Mas lá o regime de Ortega pode balançar a qualquer momento e as regras podem ser de fato draconianas. Não somente seria espoliado como é possível que o destino lhe reservasse um fim como o de outro nicaraguense, este Somoza, morto a tiros de bazuca numa rua de Assunção, depois de uma tentativa de flerte com a namorada de Stroessner, o ditador paraguaio que lhe fez as vezes de anfitrião. Falando neste, que acabou seus dias em paz e beatitude em Brasília, resta a Maduro a esperança de ser tratado com alguma dignidade na opção três, no caso a Rússia. Refugiado numa datcha nos arredores moscovitas, estaria garantido enquanto Putin permanecesse no poder e teria contra si os rigores de um inverno cinzento e frio que lhe atiçaria saudades da rumba, da piña colada e do país que ele ajudou a destruir.
A quarta opção poderia ser a Bolívia de Evo Morales. Mas corpulento como é, teria vida difícil nas altitudes dos Andes, onde o soroche lhe agravaria a asma e a apneia. Como fez com Battisti, é possível também que o pragmático Evo decida fazer com Maduro uma boa barganha com quem estiver disposto a pagar mais. Nesse contexto, poderia dá-lo de bandeja às autoridades dos Estados Unidos para que se explicasse em Washington sobre algumas suspeitas que dormem nas gavetas do DEA (Drug Enforcemnet Agency). Ou mesmo para o Brasil, onde o executivo iria se esmerar em lhe infernizar a vida e o STF agiria de acordo. Mais prudente talvez seja a quinta opção, que passaria por comprar asilo a peso de ouro junto a algum amigo dos Emirados Árabes Unidos ou adjacências. Deixando para trás uma política de terra arrasada, de olho no butim do que resta espoliar, a fuga não deverá tardar.
Decididamente, Maduro não morrerá em Caracas. Só se não lhe tiver restado um pingo de juízo. O relógio não para.
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