Migração reversa do Leste da Ásia afetará negativamente o Brasil
Devido à crise populacional – elevado envelhecimento e redução da quantidade de habitantes a partir de 2050 –, os três maiores países do Leste da Ásia (China, Japão e Coreia do Sul) precisam de milhões de imigrantes nos próximos 30 anos, para aumentar a População Economicamente Ativa (PEA) a curto prazo, e rejuvenescer a sua população a médio prazo, garantindo assim a atual força de trabalho e menor quantidade de crianças e pessoas idosas sustentadas por quem trabalha. Antes exportadores de trabalhadores para a Europa e Américas, esses países asiáticos agora necessitam desesperadamente e rapidamente atrair jovens de outros países, para manter o dinamismo de suas economias.
Necessitam muito, mas resistem bravamente à ideia de aumentar a diversidade étnica e cultural, transformá-los em países multiculturais como o Canadá, por exemplo – que aliás é um ótimo exemplo de país com política ativa de atração de imigrantes, justamente por necessitar ocupar seus 10 milhões de quilômetros quadrados de território (congelado boa parte do ano) e desenvolver sua economia.
Apenas 2% da população do Japão, cerca de 2,5 milhões de habitantes, são de outros países: chineses, sul-coreanos, vietnamitas e brasileiros, por exemplo. É a menor proporção entre os países da Organização de Cooperação para o Desenvolvimento Econômico (OCDE) que tinham, em 2019, grandes quantidades de estrangeiros em sua força de trabalho – a maior em termos absolutos nos Estados Unidos, representando 13,6% do total; e as menores na Suíça e Nova Zelândia, apesar das proporções elevadas (29,7% e 26,8%, respectivamente). Em termos relativos, todos muito acima do Japão: Reino Unido (14%), Alemanha (16%), Suécia (19,5%), Canadá (21%), Israel (21,2%), e Austrália (29,7%).
Ou seja, país mais envelhecido do mundo (28% da população com mais de 65 anos de idade), com quantidade recorde de pessoas centenárias (86 mil, proporção de 69 por 100 mil – no Brasil são 12 por 100 mil), esperados 20 milhões a menos de habitantes em 2050, dos quais então 38% com 65 anos de idade e mais, o Japão ainda resiste a abrir as portas para receber imigrantes em grandes quantidades, e evitar assim o declínio significativo da sua economia. Resistência de ordem cultural, étnica, ideológica e política à entrada dos necessários muitos milhões de imigrantes nos próximos 30 anos – com o risco de adiar tanto que a situação se torne irreversível.
Apesar da forte resistência à entrada de grande quantidade de estrangeiros, praticamente pelas mesmas razões do Japão, a Coréia do Sul conseguiu avançar nos últimos anos em políticas de estímulo à imigração. Talvez porque a gravidade da sua situação populacional – menor do que a do Japão e maior do que a da China – tenha sensibilizado seus dirigentes políticos a agirem para atenuar o impacto dos esperados 25% de pessoas idosas em 2030 e 38% em 2050.
Graças à redução da taxa de fecundidade (0,84, equivalente a 40% do mínimo), até 2100 a população do país deverá cair dos atuais 51 milhões para 30 milhões de habitantes, dos quais 11,4 milhões com mais de 65 anos de idade – hoje, a proporção de centenários já está em 42 por 100 mil. Dos três, a situação mais difícil é a da China, pelas dimensões do problema e da sua economia.
Já abordamos o tema recentemente. O agravante, no caso chinês, é a intensa emigração para os Estados Unidos, Canadá, Austrália e vários outros países, da Europa, América Latina e África. Vai longe o tempo que emigravam chineses muito pobres para trabalhar em plantações de algodão e construção de ferrovias. Agora, o movimento migratório da China para o mundo é de pessoas com formação técnica ou universitária, interessadas em fazer pós-graduação ou trabalhar em áreas de alta tecnologia, e empresários interessados em investir. Movimento benéfico para a economia a médio prazo, mas em direção oposta à necessidade populacional do país a curto prazo.
O xis da questão, para os três países, não é a redução em si da quantidade de habitantes, mas sim a redução da quantidade de pessoas economicamente ativas, e o correspondente aumento da dependência, devido à grande quantidade de pessoas com mais de 65 anos de idade. Serão sociedades com cada vez mais consumidores e menos produtores, e com mais pessoas idosas precisando de atendimento especializado (e caro), por muito mais tempo. O Japão terá cerca de 40 milhões de pessoas idosas em 2050 (dos 106 milhões de habitantes previstos) e a China modestos 350 milhões de pessoas idosas, do 1,4 bilhão previsto.
Com a maior população "japonesa" do mundo e grande quantidade de chineses e sul-coreanos, o Brasil será diretamente afetado pelas decisões desses países de políticas migratórias ativas que forçosamente terão de colocar em prática – o quanto antes. E tudo indica que é só uma questão de pouco tempo para Japão, Coreia do Sul e China focarem na atração de descendentes de quem migrou desses países para o Brasil no século passado, uma "migração reversa" em grande escala, bastante lucrativa por sinal, já que agora de trabalhadores qualificados.
Caso ocorra essa evasão massiva de jovens qualificados, o prejuízo será considerável para o Brasil, porque o país também está em grave crise populacional, com indicadores demográficos inacreditavelmente próximos dos da China, e precisa de imigrantes qualificados tanto quanto os demais países na mesma situação, do Leste da Ásia e da Europa (principalmente Itália, Portugal, Espanha, Alemanha e Polônia).
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