Made in China 2025
Tudo indica que o “centro de gravidade” da economia mundial, em 2025, será novamente na Ásia. Para ser mais exato, na China. Após dois séculos de migração do Oriente para o Ocidente, o maior PIB do mundo voltará a ser o do continente asiático, cerca de 45% do total em 2025, segundo estimativa de 2015 da “The Economist Intelligence Unit”. Esse retorno da China à condição de maior economia mundial acontecerá após 45 anos do início das Reformas no país, em 1980, que alteraram radicalmente a política econômica chinesa, com grandes impactos em todas as áreas.
Um dos resultados mais expressivos das Reformas se deu no poder de compra da maioria da população chinesa. O economista Luís Carlos Bresser-Pereira comenta a respeito: “Entre 1980 e 2014, enquanto a renda por pessoa dos brasileiros aumentou 1,4 vez, a dos tailandeses aumentou 4 vezes; dos sul-coreanos, 6,3 vezes; e a dos chineses, 17,5 vezes. A maioria dos brasileiros ainda não se deu conta dessa quase-estagnação; que o Brasil está ficando para trás (trecho do artigo “Como sair do regime liberal de política econômica e da quase-estagnação desde 1990” – Estudos Avançados, vol. 31, nº 89, São Paulo, jan/abr 2017)."
As análises comparativas dos salários na China e em outros países, da Euromonitor, de março de 2017, não deixam margem para dúvidas – a China hoje está muitíssimo distante da de 1980: os salários horários no país, em dólar (2005/2016), saltaram de US$ 1,2 para US$ 3,6. Nesse mesmo período, os salários na Tailândia passaram de US$ 1,4 para US$ 2,0; no Brasil de US$ 2,9 para US$ 2,7; na Argentina de US$ 2,1 para US$ 2,5; no México US$ 2,2 para US$ 2,1, e em Portugal de US$ 6,3 para US$ 4,5.
Agora, a China avança em ritmo acelerado para outra mudança significativa de patamar, dessa vez da quantidade para a qualidade (o “novo normal”, nas palavras do seu presidente Xi Jinping), com o plano “Made in China 2025”, com o objetivo de transformar o país em uma potência tecnológica até 2045. Esse plano, de 30 anos de duração, prevê até 2025 modestamente “reduzir as diferenças com outros países”, através da “reestruturação das indústrias manufatureiras tradicionais, inovação, propriedade intelectual, desenvolvimento sustentável, fusão e reorganização de empresas”.
Visto assim, parece simples. Não fosse pelo fato de que a China responde hoje por quase 20% da produção industrial mundial, o que significa que o seu parque industrial é o maior do mundo.A produção chinesa de veículos em 2018 deverá alcançar 30 milhões de unidades. O consumo de cimento, 2,5 bilhões de toneladas em 2016, equivale a 60% do total mundial. A produção de aço, 830 milhões de toneladas – da qual exportou 106 milhões de toneladas em 2016, mais do que o triplo da produção anual de aço brasileira. E se já era difícil competir com a China em logística, em 2025 será mais ainda, porque nesse ano ela deverá alcançar um total de 175 mil quilômetros de ferrovias operacionais, das quais 38 mil quilômetros de alta velocidade.
Simples são também as denominações das duas etapas seguintes do plano chinês, até 2035 (“fortalecer a posição”) e 2045 (“liderar em inovação”). Já os impactos serão complexos e muito fortes, porque o ritmo chinês obriga o mundo inteiro a se mexer: em 2003, a China foi responsável por 25% do total de publicações científicas dos Estados Unidos; em 2016, ela ultrapassou os EUA. Alcançou 18,6% do total mundial, contra 17,8% dos EUA, de acordo com o “Science & Engineering Indicators 2018”, do National Science Board.
Os Estados Unidos e a Alemanha também estão desenvolvendo programas para avançar em tecnologia e inovação, com objetivo semelhante: liderar a competição mundial. A Alemanha com o programa “Indústria 4.0” e os Estados Unidos com o “Manufatura avançada”. O Instituto de Estudos de Desenvolvimento da Indústria tem análises a respeito dos três programas, disponíveis para download.
Felizmente, não estamos parados esperando o trem “Made in China 2025” chegar: em maio, a Confederação Nacional da Indústria apresentou em São Paulo o Projeto Indústria 2027, ocasião na qual João Carlos Ferraz, coordenador do estudo, comparou os investimentos em P&D de outros países com os do Brasil. “Os EUA querem manter a liderança em ciência, tecnologia e inovação e recuperar a manufatura avançada. Em 2017, gastaram um total de US$ 533 bilhões em P&D. Já a China gastou US$ 279 bilhões e, o Japão, US$ 202 bilhões no mesmo período. O Brasil? Cerca de US$ 20 bilhões.”
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