Polarizações passadas

O caso Dreyfus faz 125 anos e acadêmicos de marketing analisam a radicalização atual
Como o marketing pode ajudar a entender e a evitar a radicalização? Sim, porque o marketing tem uma dimensão societal, e não apenas organizacional

"Polarização" foi uma das palavras de 2022 – e se estivesse entre as principais de 2021, 2020, 2019 e 2018, não haveria nenhuma surpresa. Afinal, ela tem sido uma constante no debate público do país e do mundo já há alguns bons anos. Ou seriam décadas e séculos? Curiosamente, nesta semana celebram-se os 125 anos da carta aberta "J'accuse", do escritor Émile Zola, em defesa de Alfred Dreyfus, capitão francês acusado de traição militar. Um episódio que, sob o vocabulário atual, polarizou a sociedade francesa.

O historiador Nicolau Sevcenko (1952-2014) lembra que "[O] processo (...) abalou profundamente a sociedade e a cultura francesas, provocando reação geral de tomada de posições, que dividiu o país politicamente (...) e chegou às raias da guerra civil" (Carta Capital, 18/02/1998, p.64). Uma conflagração que não deixaria as trivialidades imunes, pois "ao expedirem convites para seus jantares, as senhoras elegantes acrescentavam um lembrete no rodapé: 'Roga-se não mencionar o 'caso' durante a reunião'". Qualquer semelhança com o almoço de domingo da família não é mera coincidência.

E não é mesmo. Tanto que o fenômeno atual mobiliza acadêmicos de marketing. A última edição do Journal of Public Policy and Marketing dedica-se unicamente ao tema, perguntando: como o marketing pode ajudar a entender e a evitar a radicalização? Sim, porque o marketing tem uma dimensão societal, e não apenas organizacional; é uma ferramenta de influência coletiva que não opera apenas em função de interesses privados.

Tomara que os artigos ofereçam insights aproveitáveis. Porque Nicolau Sevcenko involuntariamente deixou um alerta em seu texto de 1998: "[t]oda a intolerância desencadeada pelas duas guerras mundiais e pela Guerra Fria já estava incubando ali, naquele ovo de serpente plantado no território francês".

E ninguém gostaria que "guerra" se tornasse a palavra dos próximos anos.

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Domingo, 28 Abril 2024

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