Fiesc projeta crescimento tímido para a indústria neste ano

Juros mais altos e incertezas no cenário externo por fator Trump colaboram
Segmentos como o de bens de capital devem observar uma menor demanda

A indústria catarinense deve esperar um cenário econômico desafiador em 2025, com crescimento modesto de 1,7%. A expectativa da Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc) considera que os fatores que impulsionaram o crescimento de mais de 7% em 2024 terão peso diferente este ano. Para o presidente da Fiesc, Mario Cezar de Aguiar, a alta dos juros e a alta do dólar tiveram um efeito negativo sobre a expectativa dos industriais. "O índice de confiança do empresário industrial já vem mostrando um maior pessimismo em relação à economia, especialmente porque não se enxerga solução de curto prazo para os motivos que levaram ao aumento da taxa básica de juros. O empresário não acredita na disposição do governo federal para reduzir gastos", explica.

Entre os principais fatores para a desaceleração da economia catarinense estão o impacto do aumento dos juros em setores que dependem do crédito. O economista-chefe da Fiesc, Pablo Bittencourt, explica que segmentos como o de bens de capital devem observar uma menor demanda. "Além disso, o saldo de crédito à pessoa física para a aquisição de bens será fortemente afetado pela Selic [projetada a 15% a partir da metade de 2025], o que deve levar a um resultado negativo a partir de junho", afirmou. Aliado ao fator crédito, o crescimento mais moderado da renda familiar também impacta o desempenho da indústria no ano. "Juros altos e o aumento do endividamento das famílias devem reduzir o consumo, o que afeta setores como os de automóveis, de eletrodomésticos e têxtil e de confecções", analisa Bittencourt.

Aguiar destaca que a resiliência da indústria de Santa Catarina será colocada à prova e será necessário fazer ajustes em face às novas condições de crescimento. No cenário externo, as incertezas sobre os efeitos das políticas tarifárias já anunciadas ou prometidas pelo presidente norte-americano Donald Trump também preocupam. "Muitas medidas a serem tomadas pelos Estados Unidos ainda são desconhecidas, e a extensão delas e seus reais efeitos sobre as exportações catarinenses ainda são imprevisíveis", explica o economista. Os Estados Unidos são o principal destino das exportações de Santa Catarina e o segundo maior parceiro comercial do estado.

Setores como agroindústria e construção civil serão fundamentais para minimizar os impactos de uma economia em desaceleração, na avaliação de Bittencourt. Um dos fatores que justifica a análise é que ambos os segmentos geram efeito encadeamento, ou seja, movimentam outros setores. Um exemplo é a construção civil, que impulsiona a indústria cerâmica, de plásticos, de metais e de madeira, por exemplo. "A construção civil deve ajudar a minimizar a desaceleração, pois o ciclo de obras iniciado em 2024 vai continuar precisando de matérias primas em 2025", destaca o economista. Já a agroindústria deve se beneficiar do aumento da produção agrícola, estimada em 8%. Os reflexos esperados são de crescimento da indústria de proteína animal, especialmente na de carnes de aves e de suínos. A atividade destes dois setores movimenta ramos como o de plásticos e papel (embalagens) e o de metalurgia. Bittencourt reforça, no entanto, que mudanças na política fiscal brasileira e na política tarifária norte-americana podem alterar este cenário.

Veja também:

 

Comentários:

Nenhum comentário feito ainda. Seja o primeiro a enviar um comentário
Visitante
Terça, 04 Fevereiro 2025

Ao aceitar, você acessará um serviço fornecido por terceiros externos a https://amanha.com.br/