Para quem fala castelhano

Leio na coluna de Javier Marías do "El País Semanal" um comentário demolidor sobre um certo "Guia de Comunicación Inclusiva para construir un mundo más igualitário." Não bastasse a presunção do título, trata-se da adoção de um vocabulário digno de re...
Para quem fala castelhano

Leio na coluna de Javier Marías do "El País Semanal" um comentário demolidor sobre um certo "Guia de Comunicación Inclusiva para construir un mundo más igualitário." Não bastasse a presunção do título, trata-se da adoção de um vocabulário digno de regimes fascistas e discricionários, sob o manto do inefável politicamente correto. Este – e a essa altura já ninguém duvida – continua a produzir monstruosidades políticas e comportamentais por atacado,  enquanto mina a espontaneidade da comunicação no varejo.   

Nesse contexto, acredite se quiser, não se deve mais usar palavras como "demente", "loco" ou "transtornado." Isso porque, segundo o manual, "no hay nadie normal, sino que todo el mundo es diferente." Nessa toada, que não se diga mais "estoy depre”, pois isso banalizaria a depressão, doença grave. O correto passa a ser "tengo el dia triste." Importantíssimo é jamais sequer pensar em dizer "los trabajadores y las trabajadoras." Por que? Ora, em respeito a quem não é nem homem nem mulher. Pode existir patacoada maior?  

Recomenda-se também a abolição de "madre soltera" porque pode soar descriminatório mencionar o estado civil de quem não o tem definido. Chamar alguém idoso carinhosamente de avô ou avó ("abuelo" ou "abuela") é também uma injúria porque pode ser que as ditas pessoas não tenham procriado, o que pode constrangê-las. Fico imaginando como os chineses deverão adaptar sua linguagem a essas parvoíces, eles que usam avô e avó corriqueiramente nessa circunstância. 

Para o chamado "cambio de sexo" (frontalmente abolido), o certo doravante será dizer "operaciones de afirmación de género." São consideradas desrespeitosas as palavras "hermafrodita", "inválido", "´minusválido", "cojo", "sordo" ou "ciego." Passam a ser simplesmente "personas com discapacidad física" ou "con movilidad reducida" ou ainda "con ceguera." Nem pensar em dizer "mariconadas", senão "tonterias", o que significa um tiro no pé de cognição, passando a ser uma bobagem algo indissociável dos homossexuais.    

Na lista de centenas de verbetes debiloides, nada mais de dizer "emigrantes" ou "imigrantes", senão "migrantes" – como se fôssemos aves. É considerado um insulto dizer que vamos comprar uma cerveja numa lojinha identificada, na linha de "comprar en un chino" (se o dono é chinês), ou "en el paki" (se ele é paquistanês). O correto é dizer "comprar en la tienda", simplesmente. Ufa, quanta idiotice, prefiro ficar por aqui porque a pressão arterial começa a subir, mesmo não tendo chegado sequer à metade da coluna de Javier Marías.  

Para quem ainda duvida, foi no bojo dessa odiosa castração que surgiram os neofascistas que hoje tanto chocam a cidadania e os homens de boa vontade. Sem ir muito longe, diria que os grandes culpados foram os partidários da entronização do mimimi como moeda de troca – que fizeram de sua adoção um meio de vida em suas repartições mal arejadas e sinistras. Começar foi fácil, admito, e rendeu aplauso aos inventores. Difícil vem sendo estancar essa sangria de sandices. O momento ficou bom para fascistas de toda plumagem. 

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Quinta, 12 Dezembro 2024

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