O som ao leitor
Os brasileiros não leem livros, diz o senso comum. Será que passarão a ouvi-los, então?
Talvez.
A crise da Saraiva, a maior rede de livrarias do país, e a queda nas vendas das editoras durante a década em que os preços de capa estiveram congelados, parecem dar razão ao proprietário da Livraria Cultura, Pedro Hertz: “a grande crise não está nos livros, nos jornais, nas revistas. Quem está sumindo é o leitor” (Valor Econômico, 01/12/2017). O motivo? A atenção destinada às comunicações digitais, especialmente os serviços de streaming e as redes sociais, que tomam o tempo que poderia ser destinado à leitura – não fosse o já histórico desinteresse dos brasileiros pela atividade, claro.
Então, quem sabe a alternativa não seja combater o “inimigo” tecnológico, e sim aliar-se a ele, promovendo os livros digitais?
Negativo.
Segundo dados setoriais, os e-books representam somente 1% do faturamento das editoras brasileiras. Quase dois terços delas, aliás, sequer oferece versões digitais dos títulos em catálogo.
Por isso, a esperança derradeira pode estar em pegar o brasileiro pelos ouvidos, e não pelos olhos.
Os audiobooks, comuns nos Estados Unidos, ainda engatinham por aqui, mas são promissores. Podem, em tese, substituir a música e o rádio nas caminhadas e corridas, e mesmo nos trajetos de ônibus e automóvel. Otavio Frias Filho, diretor de redação da Folha de S. Paulo, costuma dizer que existem sociedades “de ônibus” e “de metrô”, de acordo com o modal de transporte predominante – e é nas últimas que os jornais se fortalecem, uma vez que o trem favorece a leitura. O mesmo valeria, por princípio, para revistas e livros.
Como o Brasil é uma “sociedade de ônibus”, é possível que a tentativa mais frutífera de aproximar a população da literatura ocorra mesmo através do som – e que aquilo que os estudiosos das letras chamam de “sonoridade das palavras” e “ritmo das frases” deixe enfim de ser apenas uma figura de linguagem.
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