Friendly people

Fora delas, adoro as rotinas. Como explicar o paradoxo? Como nunca as tive muito rígidas, e tenho certa aversão até à palavra porque ainda me cheira a acomodação, adoro entrar em sintonia com pequenos hábitos pelos dias em que estiver em dado lugar. ...
Friendly people

Fora delas, adoro as rotinas. Como explicar o paradoxo? Como nunca as tive muito rígidas, e tenho certa aversão até à palavra porque ainda me cheira a acomodação, adoro entrar em sintonia com pequenos hábitos pelos dias em que estiver em dado lugar. Faz uma semana que tenho o privilégio de estar aqui em Chicago, uma das mais charmosas cidades dos Estados Unidos, senão a mais, em pé de igualdade com San Francisco e mordendo os calcanhares de Nova York. Apesar da fama terrível de seu inverno, consegue ser primorosa nas demais estações.   

Nessa toada, gosto de tomar o trem de subúrbio todo dia pela manhã, fazer a baldeação na principal estação da região Norte, onde me encontro, e chegar ao famoso "loop", o carrossel ferroviário que circula num enorme quadrado pelo coração da cidade ao longo de umas 15 estações principais. Chegando à minha, que pode ser State, Wabash ou Van Buyren, caminho até a Biblioteca onde sou recebido pelos mesmos indivíduos e assim ocupo meu lugar. O que há a destacar nisso? Ora, a simpatia das pessoas de forma geral, mesmo das jovens. 

É claro que isso não é um estado de espirito permanente e universal. Mas a atitude geral é de receptividade e simpatia. O "Hi, how are you today?" pode parecer um artificialismo ditado pelas regras singelas do comércio, mas a verdade é que abre muitas comportas. O mais espantoso é que os americanos são treinados, ou condicionados, a exercer uma "escuta ativa" que parece traduzir genuíno interesse pelo que o outro tem a dizer. Mesmo quando o assunto é totalmente estranho ao universo deles, o olhar parece brilhar e dizer o contrário.

Nesse contexto, até os imigrantes assimilam bem ou mal esse jeito de ser tão peculiar. Domingo passado, fiz novos amigos. Ela é croata, tem 75 anos e ele grego, já conta 80. Ambos moram aqui há meio século. Passamos quatro horas confabulando sobre as belezas do mundo e a simpatia era a todo momento reforçada por uma total ausência de ego, e a disposição em fazer com que o visitante se sinta o mais aconchegado possível. Se tivesse que destacar um dos fatores que faz desse país excepcional, este é um deles. 

Que Trump não nos ouça.

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Quarta, 11 Dezembro 2024

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