Brasileiros preferem cursos online para qualificação profissional

Conclusão está na pesquisa Skills Outlook Employee View
As seis habilidades consideradas mais importantes pelos brasileiros são trabalho em equipe, liderança, habilidades linguísticas, tomada de decisão, comunicação e agilidade


A pesquisa Skills Outlook Employee View, divulgada nesta segunda-feira (24) no Brasil, revela que cursos online são a melhor maneira de qualificação dos brasileiros para o mercado de trabalho. Mais de 80% dos entrevistados no país preferem cursos virtuais, de curta duração. Realizada pela Pearson em parceria com o Google, a pesquisa ouviu 4 mil trabalhadores do Brasil, da Índia, do Reino Unido e dos Estados Unidos, entre agosto e setembro do ano passado, sendo 1 mil de cada país. Embora a educação formal ainda seja valorizada pelos trabalhadores no Brasil, a pesquisa identificou que mais de 40% acreditam na possibilidade de se construir uma carreia de sucesso sem um curso universitário, contra 34% que preferem uma formação formal em uma universidade ou de um treinamento longo para aprender novas habilidades para suas carreiras. Do total, 22% optam por se capacitarem por meio de sites e aplicativos online.

O diretor de produto da Pearson, Eduardo Leite, evidencia que, embora esteja se tornando mais parecido com os outros países, o Brasil apresenta algumas peculiaridades. "Os brasileiros têm uma urgência maior no entendimento de que precisam de qualificações constantes. O país entende que precisa se qualificar mais para se manter relevante no mercado de trabalho e conseguir alçar melhores posições dentro das suas carreiras." Esse nível de urgência é comparado somente com o da Índia. O Brasil é também um país onde se vê crescimento maior de pessoas que entendem que conseguem ter uma boa carreira sem educação formal. "Essa é uma mudança bastante grande que se vê nos últimos anos", salientou Leite.

Habilidades
A sondagem revela que o trabalhador brasileiro continua muito focado em soft skills (habilidades comportamentais). "Eu diria que o Brasil é um dos países que mais têm interesse em desenvolver essas soft skills e não apenas hard skills [habilidades técnicas]". A sondagem aponta que as seis habilidades consideradas mais importantes pelos brasileiros são trabalho em equipe, liderança, habilidades linguísticas, tomada de decisão, comunicação e agilidade. Sugere, porém, que, no período de cinco a dez anos, as hard skills focadas em tecnologia serão consideradas as mais necessárias. Outro ponto que é bastante forte no Brasil em comparação aos Estados Unidos Reino Unido, e mesmo aos países que não são de língua inglesa, é que há aqui interesse e necessidade grandes em desenvolver um novo idioma. "A habilidade que as pessoas têm mais interesse em procurar se desenvolver para o futuro é em idiomas, principalmente inglês, pois elas entendem que isso vai ampliar as possibilidades de empregabilidade, especialmente em carreiras de tecnologia em que as pessoas estão conseguindo trabalho fora, ou em multinacionais, inclusive com remuneração em moeda estrangeira. Essa é uma diferença quando se compara com países que tem o inglês como língua nativa", destacou o diretor.

Outro destaque percebido no Brasil é que os trabalhadores procuram flexibilidade, por questões de mobilidade, pois é preciso investir muito tempo gasto no transporte. Por isso, optam por formas de aprender que ofereçam flexibilidade para a pessoa poder estudar no seu próprio ritmo ou em momentos diversos. Essa é uma tendência em expansão no Brasil. Aplicativos e plataformas online estão entre as formas preferidas de aprendizagem. Mas os cursos rápidos e treinamentos intensivos online aparecem, ao lado do diploma universitário, entre as melhores formas para se avançar na carreira. Leite acentuou que, na pré-pandemia da Covid-19, o Brasil mantinha certo preconceito, até mesmo uma rejeição maior, em relação à aprendizagem online. Hoje, entretanto, no pós-pandemia, o brasileiro já aceita a aprendizagem virtual como uma forma de impulsionar a carreira. Nisso o Brasil já está muito parecido com os demais países. "Hoje, existe maior abertura para formatos online remoto ou híbrido. Atualmente, tem mais aceitação para os dois modelos. O Brasil vem se aproximando cada vez mais de outras nações que já têm o modelo online mais maduro", avalia Leite.

Nada menos que 85% dos trabalhadores brasileiros têm expectativa de continuar aprendendo ao longo da carreira e, para 83%, certificações, cursos de curta duração e bootcamps (ensino imersivo e intensivo) estão entre os preferidos para seu desenvolvimento profissional. Mais de 80% dos consultados defendem que as universidades devem se envolver mais na oferta de programas não formais para trabalhadores. Outra especificidade apontada pela pesquisa no Brasil é o interesse cada vez maior por microcredenciais, uma constante forma de aprendizagem. Há interesse grande no Brasil de as pessoas terem as próximas formações vinculadas com a empresa ou local onde estão trabalhando. Muitas vezes, quando a organização ou instituição oferece para o colaborador essa formação, em geral ela é bem específica e condiz com uma nova posição ou cargo dentro da empresa.

Há um interesse mútuo. A empresa tem um benefício, pois seu funcionário vai desenvolver uma habilidade, e o trabalhador também satisfaz uma necessidade que a empresa mapeou para ele progredir na carreira. Para Leite, outra informação que chama a atenção é que a liderança aparece como algo que as pessoas estão desenvolvendo agora e têm interesse em desenvolver progressivamente. Ele destacou que as pessoas buscam ser um líder melhor, ainda mais agora, com novas tecnologias, e cada vez mais as pessoas entendendo a importância das relações humanas e, também, a colaboração entre os próprios trabalhadores.

O diretor da Fundação Getulio Vargas Social (FGV Social), Marcelo Néri, destacou que, apesar de ter havido uma evolução, a média de anos de estudo do brasileiro ainda é baixa. Em 1980, por exemplo, esse período compreendia cerca de três anos. "Hoje, estamos em dez anos, o que ainda é pouco, em média, por adulto, e, apesar desse salto de educação, a inclusão produtiva, ou seja, a produtividade do trabalhador brasileiro, ficou parada nesse período", observou. Néri disse que a expectativa de vida do brasileiro aumentou bastante, e estudos mostram que a educação pode ter ajudado para isso, mas não impactou na produtividade do trabalho, que é alguma coisa mais direta. O diretor da FGV Social ponderou que até a maior expectativa de vida cria essa necessidade de aprendizados durante toda a vida, onde esse tipo de cursos online se insere.

As pessoas percebem que precisam de algo mais para se inserir melhor no mercado de trabalho. O ensino formal no Brasil, pelo menos em nível de ensino médio, que é uma etapa importante, era muito desfocado, ou seja, o aluno aprendia várias disciplinas, mas nenhuma delas especializava, com pouco impacto sobre o mercado de trabalho. Quando se pergunta para os adolescentes que deveriam estar no ensino médio o motivo da evasão, 42% disseram que era por falta de interesse, 27% por falta de renda, pois era necessário trabalhar. "De fato, existe um grande potencial para você fornecer cursos que atendam demandas específicas dos trabalhadores, em diferentes momentos de sua carreira e, de outro, que impactem mais no mercado de trabalho", resume Néri. Ele lembrou que a pandemia trouxe mudança no sentido levar as atividades também para o mundo digital, desde o ensino ao mercado de trabalho. "Então, é natural que aumentem o grau de interesse e a demanda e a oferta também de cursos online". Ele observou, no entanto, que o fato de haver uma demanda não significa que você está de fato empoderando as pessoas no mercado de trabalho.

Cursos profissionalizantes
Segundo Néri, por outro lado, não há no Brasil uma tradição de cursos profissionalizantes. Segundo ele, existem algumas instituições de excelência, como o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac), mas não atendem na escala do problema. Pesquisas realizadas pela FGV Social sobre cursos profissionalizantes em geral evidenciaram que, quanto mais alto o nível do curso tecnológico, por exemplo, curso universitário de curta duração, o impacto é maior. "O ganho que a pessoa tem com a feitura do curso é maior do que, por exemplo, para quem fez ensino médio profissionalizante ou curso de qualificação profissional mais básico. Quanto maior a escala na hierarquia de cursos, maior tende a ser o efeito", explica Néri.

Ele aponta ainda os ganhos decorrentes dos cursos profissionalizantes. "A ocupação sobe 8% e o salário tende a subir 15% [em média] quando a pessoa faz esses cursos em relação a não fazer. A gente não achou um grande efeito em relação a cursos diurnos ou noturnos, presenciais ou digitais. Hoje em dia, a pandemia gerou uma grande mudança em vários aspectos da vida das pessoas", contextualizou. Cursos online têm uma vantagem em termos de se adequar mais ao tempo das pessoas, embora um curso presencial, a interação com os colegas e professores ao vivo, tenha as suas vantagens. "Eu diria que um curso híbrido talvez seja uma solução a esses cursos puramente digitais, embora reconheça que sejam mais complexos e caros esses cursos que têm um lado presencial", afirmou o diretor da FGV Social.

Com Agência Brasil

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Comentários: 1

Denise Machado em Quinta, 25 Mai 2023 18:09

"Mais de 80% dos consultados defendem que as universidades devem se envolver mais na oferta de programas não formais para trabalhadores." Esse resultado evidencia absoluta ignorância por parte dos entrevistados sobre o que seja uma universidade. Tenho curiosidade sobre os dados demográficos dessa amostra de 1 mil trabalhadores brasileiros: idade, nível de escolaridade, renda.

"Mais de 80% dos consultados defendem que as universidades devem se envolver mais na oferta de programas não formais para trabalhadores." Esse resultado evidencia absoluta ignorância por parte dos entrevistados sobre o que seja uma universidade. Tenho curiosidade sobre os dados demográficos dessa amostra de 1 mil trabalhadores brasileiros: idade, nível de escolaridade, renda.
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