O paradoxo das farmácias
No fim do ano passado, uma loja em obras no bairro Santa Cecília, em São Paulo, exibia uma faixa curiosa e bem-humorada: "Em breve, Livraria Bandolim (ufa, não é outro Oxxo)". Desde que a rede mexicana de minimercados aportou na capital paulista, todo e qualquer ponto comercial vago parece predestinado a se tornar uma de suas convenience stores, tão amaldiçoadas pelos urbanistas quanto saudadas pela vizinhança.
Pois o Oxxo de Porto Alegre (RS) são as farmácias — não de uma única rede, mas de pelo menos três delas, duas gaúchas e outra, paulista. Por aqui, esquinas em que haja imóvel desocupado ou mal aproveitado estão fadadas a se transformar em uma reluzente Panvel, São João ou Droga Raia. Do lugar em que moro, por exemplo, estou a menos de 500 metros de cinco drogarias – o que tranquiliza meu lado hipocondríaco e põe a pensar meu lado marqueteiro.
Afinal, por que há tantas farmácias na capital gaúcha?
Há os suspeitos de sempre: envelhecimento da população, clima da cidade (calor e frio úmidos, mudanças bruscas de temperatura), mix de produtos (saúde, higiene, beleza), oferta de serviços (medição de pressão, vacinas etc.), concentração populacional em determinadas regiões e conveniência (é mais fácil 'consultar' um farmacêutico que um médico) são as razões mais óbvias.
Mas o que mais me chama a atenção é que, aparentemente, esses empreendedores todos não erram ao apostar em novos pontos de venda. Quando vou a uma unidade qualquer, sempre há movimento. O que sugere um fenômeno curioso: às vezes, novos negócios não competem para dividir as fatias de um bolo já pronto, e sim o ajudam a crescer. Mais alternativas de produtos e serviços fazem com que o consumidor aloque uma parcela maior de seu orçamento nas farmácias, em detrimento de outros tipos de loja – e a recente voracidade com que supermercadistas têm tentado incorporar remédios ao seu catálogo talvez dê uma pista sobre quem anda perdendo.
Além da quantidade desses estabelecimentos, outro fator me chama a atenção: a concorrência não tem contribuído em nada para tornar a experiência de compra melhor. Hoje, há que se pegar senha para atendimento no balcão, aguardar a vez de ser chamado e, depois, formar fila para pagamento no caixa. Considerando que nenhuma venda é feita sem pedir o CPF do consumidor, imprimir um canhoto de ofertas e averiguar, no sistema, as opções em estoque e com preço mais em conta, desconto do laboratório ou promoções associadas, digo sem medo de errar: não há pior jornada do cliente no varejo de conveniência do que a das drogarias. Nunca uma compra de medicamentos é concluída em menos de 20 minutos. Nunca.
A ponto de, às vezes, eu torcer para que uma esquina desabitada qualquer vire um Oxxo.
Ou, claro, uma livraria.
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