Vende quem pode...
Que tal uma bolsa em formato de lata de tinta? Ou outra, pequeninha, do tipo clutch, que imita uma pomba? Talvez você tenha muitos objetos para carregar, então o melhor seja uma sacola maior, parecida com um... saco de lixo, perfeita para combinar com um par de tênis que já vem detonado de fábrica. Se você achou estranhos ou quase ofensivos os produtos acima, saiba que eles existem e custam caro, bem caro: R$ 15 mil, R$ 5 mil, R$ 9 mil e R$ 10 mil, respectivamente.
Daí você tenta entender por que uma empresa tem coragem de lançar produtos de estética tão duvidosa e, principalmente, por que consumidores dispendem pequenas fortunas neles.
Bem-vindo ao conceito de "marketing da oferta", aquele praticado por empresas que podem ignorar a opinião do consumidor na hora de conceber um produto ou serviço. O motivo? Simplesmente não estão interessados nela: mais do que atender aos desejos da clientela, eles são responsáveis por forjá-los.
A razão reside num privilégio que conquistaram ao longo de uma trajetória de sucesso. São marcas tão prestigiadas que exercem seu fascínio por meio de uma espécie de "abuso de poder": permitir-se fazer o que querem. Tal como artistas consagrados que deixam de se importar com crítica, público ou empresário e passam a seguir os próprios instintos. E graças ao seu histórico vencedor, geralmente são tratados com certa bonomia, mesmo que desviem da rota esperada – seja a do bom gosto ou a do bom senso.
No mercado de luxo, no qual as empresas citadas na abertura deste post atuam, produtos extravagantes são especialmente importantes para reafirmar o simbolismo de uma marca. Numa era de acessibilidade, em que virtualmente quase todo mundo pode ter um item de luxo, lançamentos assim permitem conectá-las a consumidores que almejam exclusividade e que desempenham o papel de formadores de opinião.
Esses consumidores, aliás, fazem da aquisição desses objetos um indicador de aptidão. Ao exibi-los, passam o recado de que têm dinheiro suficiente para gastar num item para lá de inusitado, e personalidade de sobra para não se importar com os comentários alheios. Uma demonstração simultânea de elitismo e altivez.
E de falta de juízo, poderiam dizer alguns – mas o que seria do marketing se dependesse apenas daquilo que costumamos chamar de racionalidade?
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