Excessos excessivos

Quando produtos oferecem bem mais do que usamos

Assistente de estacionamento, bancos aquecidos, painel personalizável. Esses e alguns outros atributos de carros à venda no Brasil são, segundo um especialista do UOL, dispensáveis – ou úteis "apenas para mostrar aos amigos" (texto completo aqui).

O excesso de features não é, obviamente, uma exclusividade da indústria automobilística. Pelo contrário, está presente em boa parte dos produtos com os quais temos contato no dia a dia, especialmente os que envolvem tecnologias mais avançadas. Se são pouco úteis ou até funcionalmente ruins, por que diabos existem, então?

"Mostrar aos amigos" é uma boa pista, desde que a expressão seja entendida como uma síntese para o aspecto emocional que cerca toda a compra. O consumo é um ato repleto de caprichos, preferências momentâneas que transitam entre a futilidade e a gratuidade, e muitos adoram ter o que de mais moderno existe, seja lá em que categoria for, pelo simples prazer de ter. E ponto.

Mas há outras razões. Anabolizar a lista de tecnologias de um produto ajuda a diminuir a sensibilidade a preço do cliente ao tornar extensa a quantidade de supostos benefícios que ele recebe. Como no momento da aquisição nem sempre temos noção exata do que vamos precisar ou ter disposição em usar, o excesso soa melhor do que a ausência – e acaba usado como justificativa para o preço que se paga por um bem.

Além do mais, certos consumidores acreditam que escolher um produto completo, cheio de acessórios, é também uma estratégia segura de aquisição – e bastante mais cômoda, quando se tem dinheiro. Em vez de avaliar as alternativas e ponderar o custo-benefício de cada uma, o orçamento folgado permite que se adote uma proxy bem mais simples: comprar o mais caro e está resolvido.

Seja lá a motivação, o resultado é que vivemos na era da potência, assolados pela síndrome do SUV.

Como?

"Potência" é o nome que o sociólogo inglês Richard Sennett dá justamente à possibilidade de comprar algo que jamais utilizaremos. Um aspecto que mexe com nossa fantasia: não limitar nosso desejo à utilidade é uma maneira de expandi-lo, de não nos conformarmos com nossos limites.

E "síndrome do SUV" é uma expressão cunhada pelo jornalista David Pogue, da Scientific American, para definir justamente a característica-mor desses carrões que tomaram conta das grandes cidades: concebidos para uma finalidade (o campo, os terrenos pedregosos, as áreas não asfaltadas), são utilizados para outra (ruas e avenidas pavimentadas), bem menos exigente.

E já que o post está repleto de expressões, vamos a mais duas: "fadiga de atributos" é o excesso de features inúteis ou difíceis de usar de muitos produtos, para a qual o melhor antídoto é o "princípio K.I.S.S.": "keep it simple, stupid" ("mantenha as coisas simples, em tradução livre). Ou seja, despojar de excessos e concentrar no essencial da funcionalidade.

Bem, estão aí: "potência", "síndrome de SUV", "fadiga de atributos e "princípio KISS". Uma respeitável lista de expressões que tornam este post o mais completo do portfólio de AMANHÃ, e que podem ser usadas por você em um relatório da empresa, um trabalho de faculdade ou num artigo científico.

Ou apenas para mostrar aos amigos. 

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Quinta, 12 Dezembro 2024

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