O lado B da meritocracia e do bônus individual
O conceito de meritocracia dentro de uma empresa, apesar de belo no discurso, falha miseravelmente na prática. Essa é uma das conclusões descritas pelo consultor, palestrante e professor Luiz Gaziri no livro “A Ciência da Felicidade”, publicado no Brasil pela Faro Editorial. Segundo ele, a motivação pelo dinheiro é algo que requer cuidado redobrado. Gaziri lista cinco motivos para as corporações abolirem ou, então, usar com muito mais cautela esse tipo de ferramenta motivacional.
Fatores externos
Em ambientes de trabalho cada vez mais complexos, dificilmente o desempenho de um funcionário depende apenas da sua dedicação e do seu esforço. Não que esses fatores não sejam importantes, mas hoje a performance de um funcionário depende muito mais de fatores que fogem ao seu controle. Tais como: estado da economia, qualidade dos produtos e serviços da empresa, condições de pagamento, logística, política de crédito, avanços tecnológicos, eficiência de outros setores da empresa, clima, preço, movimentação dos concorrentes, entre outros fatores.
Trabalho em equipe torna-se praticamente impossível
No mundo corporativo, executivos gostam de adotar discursos que enfatizam como em suas empresas o trabalho em equipe é um dos comportamentos mais valorizados, enquanto pagam comissões, bônus, prêmios e participação nos lucros. Nos ambientes invadidos pelos modismos do pagamento por desempenho e da meritocracia, na qual os funcionários são pagos, promovidos ou demitidos de acordo com a sua performance individual, o trabalho em equipe torna-se praticamente impossível. “Mérito se conquista em grupo, não individualmente”, alfineta o autor.
Menos disposição para ajudar
Nos mais diversos experimentos que utilizaram estímulos com “dinheiro”, os participantes demoraram mais tempo para pedir ajuda em uma tarefa difícil. A tendência é também passarem menos tempo ajudando um colega durante o trabalho, doarem menos dinheiro, sentarem-se mais longe dos demais, escolherem experiências individuais em vez atividades que várias pessoas poderiam se divertir e, finalmente, optarem por trabalhar sozinhos.
Produção de comportamentos inadequados
Se apenas pensar em dinheiro já produz condutas impróprias, ver uma grande quantidade dele resulta em consequências ainda mais graves, segundo pesquisadores de Harvard e da Universidade de Washington. No experimento, antes de fazer uma tarefa, um grupo de participantes visualizava um maço de notas que somavam US$ 24, e outro grupo olhava para US$ 7 mil em vários maços. O resultado foi que 85,2% das pessoas do grupo que visualizou uma grande quantidade de dinheiro trapacearam na tarefa, contra apenas 38,5% do grupo que viu uma pequena quantidade de dinheiro.
Um estímulo para a agressividade
Em um estudo ainda não publicado, o professor da Universidade da Califórnia em Irvine, Paul Piff, orientou dois alunos a rivalizarem em uma partida do jogo de tabuleiro Monopoly. Depois de tirar cara ou coroa, um deles ganhava US$ 2 mil na largada com um bônus adicional de US$ 200 a cada volta no tabuleiro, enquanto o outro recebia US$ 1 mil no início, e o bônus de US$ 100. O aluno na condição “rica” podia jogar dois dados, assim andando mais rápido no tabuleiro; o outro podia jogar apenas um. O resultado foi que, em diversas rodadas, os participantes colocados na condição privilegiada agiam de forma mais agressiva: moviam suas peças fazendo mais barulho, usavam posturas expansivas e de poder, eram agressivos, rudes, competitivos e passavam a desprezar os participantes “pobres”, evitando o contato visual.
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