Aço na Ásia: uma disputa de gigantes

O novo “round” da eterna briga comercial dos Estados Unidos com os seus concorrentes, dessa vez – novamente – com a China, tem uma forte razão de ser: o aço. A maior parte da Ásia é abastecida de aço pela China, e os EUA, que produzem apenas 10% do q...

O novo “round” da eterna briga comercial dos Estados Unidos com os seus concorrentes, dessa vez – novamente – com a China, tem uma forte razão de ser: o aço. A maior parte da Ásia é abastecida de aço pela China, e os EUA, que produzem apenas 10% do que a China fabrica de aço, é o país maior importador desse produto no mundo. Em 2015, chegaram a comprar 35 milhões de toneladas, quantidade superior à produção anual do Brasil.

Pode-se concluir, pelas análises e dados do “Global Steel Report”, de agosto de 2017, e do “Steel Exports Report: China”, de março de 2018 [publicações do Global Steel Trade Monitor, do departamento de comércio dos EUA], que essa briga aumentará muito nos próximos anos, tais as dimensões do mercado mundial de aço. 

E a Ásia é “o” mercado consumidor de aço. Neste ano deverá atingir 1,015 bilhão de toneladas, algo próximo a 65% do total mundial. Grande consumidor e grande produtor: das dez maiores siderúgicas do mundo, nove estão na Ásia – dessas, cinco na China. A maior siderúgica chinesa, a Hesteel Group, produziu em 2016 quase 48 milhões de toneladas, mais que toda a produção alemã. Depois da campeã China, com produção na faixa de 800-820 milhões de toneladas, vem o Japão, com impressionantes 100-110 milhões, e a Índia, com modestos 90 milhões. Em quarto lugar os EUA, com 80-88 milhões; depois a Rússia e a Coréia do Sul, empatadas em 70-71 milhões; a Alemanha, com 42, e a Turquia com 33. São asiáticos seis dos oito países maiores produtores de aço do mundo. 

Provavelmente a motivação maior da briga atual não sejam os subsídios que os Estados Unidos acusam a China de conceder aos seus fabricantes de aço – ou a prática de “dumping” que volta e meia vem à baila, mas sim a queda do consumo, cuja maior prova é a espantosa capacidade ociosa mundial do setor, superior a 30%, recorde no período 2005/2017. Outra prova de peso: a China vendeu 31% menos aço em 2017, do que em 2016, quando exportou 106,6 milhões de toneladas. 

Outro aspecto decisivo é o potencial do mercado indiano e o seu consequente efeito nos preços. Atualmente a Índia produz menos aço do que o Japão, consumiu 65 a 83 milhões de toneladas anuais, no período 2010/2016, e importou e exportou as mesmas 10 milhões de toneladas/ano. Só que a Índia é muitíssimo mais uma China, em potencial de consumo de aço, do que um Japão. Quando ocorrer na Índia algo semelhante ao desenvolvimento chinês dos anos 1990 em diante, inevitavelmente dobrará seu consumo anual de aço. Traduzindo: o crescimento indiano nos anos 2020/2030 aumentará a demanda mundial de aço em até 20% – e junto com ela os preços. Quem duvida dessa possibilidade, imagine em 1978, quando a China produzia 32 milhões toneladas de aço, se alguém poderia acreditar que aquele país pobre e atrasado se tornaria o maior produtor e exportador de aço do mundo.

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Quinta, 18 Abril 2024

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