Quais setores da bolsa são mais afetados pelo tarifaço de Trump?
A imposição de uma tarifa de 50% sobre todos os produtos exportados pelo Brasil aos Estados Unidos tem mexido com o mercado brasileiro nos últimos dias. A carta enviada por Donald Trump ao Palácio da Alvorada informa que a nova alíquota de 50% passa a valer a partir de 1º de agosto. Com isso, o Brasil deixou de ser um dos países menos afetados – já que recebeu inicialmente a tarifa mínima de 10% – e no momento tem a alíquota mais alta entre todos os países. No sábado (12), a Casa Branca também taxou a União Europeia e o México em 30%.
O impacto à economia brasileira como um todo ainda é incerto, mas o efeito das tarifas sobre as ações de empresas de alguns setores foi relevante. "Desde o início do ano, Trump tem sinalizado mais impostos e as alíquotas vão variando muito. O que a gente percebe é que ele basicamente queria negociar melhor as condições e muitas das vezes a primeira alíquota que ele estabelecia não era praticada", exemplifica Marcelo Bolzan, planejador financeiro e sócio da The Hill Capital. Os setores que mais exportam para os Estados Unidos estão entre os mais afetados pelas tarifas. Mauricio Rahmani, gestor de renda variável da Reach Capital, tem uma visão que pode acalmar os investidores: "O impacto direto atinge apenas um grupo restrito de empresas industriais listadas na bolsa", sentencia.
Mas mesmo dentro de cada setor, a reação do mercado varia a depender do nível de exposição de cada empresa aos Estados Unidos. Quanto maior a relevância das exportações aos Estados Unidos para a receita da companhia, maior tende a ser o efeito. Para exportadores de bens industrializados, commodities e insumos industriais, a magnitude do impacto é grande, afirma o planejador financeiro e especialista em investimentos Jeff Patzlaff. Segundo ele, empresas como Embraer e Suzano têm parte relevante de suas receitas atreladas às vendas aos norte-americanos. Rahmani cita ainda a catarinense Weg, mas diz que o reflexo tende a ser marginal, já que cerca de dois terços das vendas nos Estados Unidos são atendidos por fábricas locais.
No setor de óleo e gás, Otávio Araújo, consultor sênior da ZERO Markets Brasil, vê impacto menor. "Na minha visão, apesar do grande comércio de petróleo para os EUA, o redirecionamento das exportações é mais fácil nesse caso. Ainda há espaço para aumentar o volume de exportação de petróleo bruto para a China, por exemplo, ou para outros parceiros", opina. Por outro lado, as empresas brasileiras que têm fabricas nos Estados Unidos podem se beneficiar. "A ideia de Trump é que os países coloquem novas fábricas e plantas em solo norte-americano. Empresas como Gerdau e JBS, que já têm produção lá, não seriam impactadas e, na verdade, podem até ser beneficiadas nesse cenário", avalia Bolzan, da The Hill Capital.
Em meio à volatilidade e incerteza do momento, muitos investidores se perguntam sobre o que fazer com suas ações. Para Patzlaff, é preciso ter cautela para reavaliar a exposição da carteira nesse cenário. Para ele, investidores com ações dos setores mais expostos podem reduzir a posição ou usar proteção cambial e instrumentos derivativos para reduzir os riscos. Ele lembra ainda da importância de diversificar para setores menos sensíveis e acompanhar o desenrolar dos fatos, pois há chance de negociação diplomática que amenize os efeitos. "Caso as tarifas se mantenham, espera-se algum alívio ao fim do primeiro semestre de 2026, quando a agenda política nos Estados Unidos pode mudar. Até lá, a priorização deve ser dada à resiliência da carteira, com foco em qualidade, em diversificação, mantendo títulos de renda fixa ou títulos atrelados à inflação ou ao dólar", sugere Patzlaff.
Otávio Araújo, da ZERO Markets Brasil, destaca que a decisão precisa estar alinhada ao perfil de cada investidor. "Para clientes mais conservadores, a sugestão é retirar as ações da carteira nesse momento, mesmo com prejuízo", aconselha. "Já para uma pessoa mais arrojada e tem tempo para deixar o dinheiro investido, pode ser um excelente momento para aumentar posição, na minha visão", complementa. Ele alerta, no entanto, que a decisão por comprar mais ações precisa levar em conta uma análise dos fundamentos de cada empresa, buscando companhias resilientes e consolidadas, em setores mais estáveis e menos afetados pelas oscilações de curto prazo do mercado.
Com Redação da B3
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