Indústria do Sul perde Paulo Vellinho

Empresário ajudou a fundar a Springer
Vellinho idealizou o “Prêmio Sringer – Por um Rio Grande Melhor”, outorgado pela Assembleia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul a personalidades de destaque no cenário político e econômico do estado

O empresário gaúcho Paulo Vellinho, de 95 anos, faleceu na quinta-feira (8). A causa da morte não foi informada. Ele foi um pioneiro da indústria de condicionadores de ar no Brasil, nos anos 1950, ao ajudar a fundar a Springer, que posteriormente foi associada à americana Carrier. Natural de Caxias do Sul, ele se formou em química industrial pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul em 1949.

Por meio de nota, a Associação Comercial de Porto Alegre, na qual Vellinho era conselheiro superior, prestou a última homenagem a amigos e familiares. No comunicado, a entidade destacou a "longa, exemplar e brilhante trajetória empreendedora de mais de 60 anos de Paulo Vellinho, que participou ativamente do processo de industrialização do país", destacando a trajetória dele à frente da Springer.

Além de ex-presidente da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs), o empresário também presidiu a Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee). De intensa atuação político-institucional, Paulo Vellinho idealizou o "Prêmio Sringer – Por um Rio Grande Melhor", outorgado pela Assembleia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul a personalidades de destaque no cenário político e econômico do estado.

A vida do empresário está contada no livro "Paulo Vellinho – O realizador de um sonho chamado Springer". O livro, escrito pelo jornalista Mario de Santi e lançado em 2018, conta sua trajetória de mais de 60 anos de empreendedorismo, em especial a transformação, sob seu comando da Springer em uma reconhecida empresa nacional do setor eletroeletrônico.

O Portal AMANHÃ reproduz, a seguir, o post de André D´Angelo, titular do Blog Sr. Consumidor, que em 6 de setembro de 2017 fez uma justa homenagem ao empresário por ocasião dos seus 90 anos. Confira.

O último idealista
Nesta quarta-feira, 6 de setembro, Paulo Vellinho completa 90 anos. Empreendedor que comandou a Springer, líder empresarial que presidiu a Fiergs e outras tantas entidades de classe, executivo da Coemsa e da Avipal, Vellinho poderia ser reverenciado como um dos personagens que ajudou a forjar a indústria gaúcha e brasileira do século 20. Mas a faceta que mais merece destaque é outra: a de homem público que nunca ocupou cargo público.

Não há contradição aí. Paulo Vellinho é de uma geração de homens de negócio, da qual também fez parte Antônio Ermírio de Moraes (1928-2014), cujos projetos empresariais jamais deixaram de contemplar um projeto de país. O comando de companhias e entidades de classe importantes era visto não como uma regalia a ser explorada para fins de promoção pessoal ou classista, e sim como uma responsabilidade da qual o capital privado não poderia se furtar naquela quadra da história do Brasil: a de ajudar a construir uma ideia de nação.

Uma nação que aproveitasse sua vasta extensão territorial, sua natureza generosa e sua diversidade humana para, a exemplo dos Estados Unidos, cumprir uma espécie de Destino Manifesto tropical, de vocação para grandeza e protagonismo internacional. Protagonismo esse pautado pela autonomia econômica, com o fortalecimento da indústria local, e pela justiça social, fim último de qualquer projeto que pretenda falar em desenvolvimento.

Um ideal do qual Vellinho foi porta-voz enquanto esteve na ativa, de meados da década de 1950 até o início do novo milênio. Sua saída de cena coincide com o início do encolhimento da representação empresarial produtiva brasileira, restrita à mera reivindicação de benesses tributárias ou ao total alheamento em relação ao Poder Público. No primeiro caso enquadram-se os partidários do capitalismo sem risco, pregadores de um liberalismo rasgado que, claro, só deve valer para os outros, nunca para eles. No segundo, empresários e gestores que investem, inovam e trabalham ignorando qualquer interface com governos, por considerá-las inúteis. Sequer cogitam se tornar pontas-de-lança de projetos que transcendam suas organizações ou categorias para ganhar dimensão pública, em um lamentável desperdício de capital intelectual.

Paulo Vellinho continua na batalha, escrevendo para jornais gaúchos e proferindo palestras. Ao completar nove décadas de vida, pode jactar-se das empresas que comandou, dos empregos que gerou e das amizades que fez. E, principalmente, pode se orgulhar de ter travado o bom combate, de ter cerrado fileiras em nome de ideais que permanecem relevantes e atuais – por mais que o país com o qual tanto contribuiu pareça fazer questão de ignorá-los.

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Terça, 03 Dezembro 2024

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