MPEs precisam de R$ 202 bilhões a mais de crédito na pandemia
No Brasil, a pandemia do novo coronavírus provocou forte queda nas vendas dos microempreendedores individuais (MEI), das microempresas (ME) e das empresas de pequeno porte (EPP), o que compromete o financiamento do capital de giro dessas empresas. Diante desse cenário, cresce a demanda por crédito justamente num momento em que o sistema financeiro também reduz a sua oferta, devido aos riscos e incertezas. Estudo realizado pelo Centro de Estudos em Microfinanças e Inclusão Financeira da Fundação Getulio Vargas (FGVcemif), divulgado nesta terça-feira (23), estima que a lacuna entre a demanda potencial de crédito por essas empresas e a oferta anual por parte das instituições financeiras seja da ordem de R$ 202 bilhões.
Para chegar nesse valor, os pesquisadores usaram dados públicos de fontes como Sebrae, FGV e IBGE, além de estudos anteriores sobre o tema, e mapearam os tipos de empresas (9,8 milhões de MEIs, 6,6 milhões de MEs e 900 mil EPPs) e os setores econômicos nos quais elas atuam, como comércio varejista (28,5% do total), indústria de transformação (9,6%), alimentação (9%) e serviços pessoais (8,5%). A partir daí, estimaram o faturamento das empresas por setor e a queda média desse faturamento por conta da epidemia.
A estimativa do crédito necessário para financiar o capital de giro das empresas levou em consideração que a necessidade de investimento em capital de giro de cada setor é diferente, variando conforme suas características operacionais. Com base em estudos de economias emergentes, essas necessidades foram classificadas em três faixas: alta (30% do faturamento), média (20% do faturamento) e baixa (15% do faturamento). Por fim, esses dados foram cruzados com a queda de faturamento de cada setor. Considerando o total de 17,3 milhões de empresas, chegou-se a uma demanda de crédito da ordem de R$ 472 bilhões que, subtraída dos R$ 270 bilhões concedidos pelo sistema financeiro em 2019, tem-se a demanda não atendida de R$ 202 bilhões.
A análise foi ampliada para outros dois cenários – um otimista, no qual todos os setores têm queda de faturamento 10% menor do que a estimada inicialmente (cenário-base), o que produziria uma demanda não atendida de R$ 116 bilhões; e um cenário pessimista, em que os setores registram uma queda de faturamento 10% maior em relação ao cenário-base, aumentando a lacuna para R$ 289 bilhões. Outra simulação foi realizada, levando em conta os dados dos três primeiros meses da pandemia (março, abril e maio de 2020). Somente nos três meses, a demanda não atendida ficaria em R$ 57 bilhões, variando de R$ 35 bilhões a R$ 79 bilhões, de acordo o cenário mais otimista ou mais pessimista.
Segundo Lauro Gonzalez, coordenador do FGVcemif (Centro de Estudos de Microfinanças e Inclusão Financeira da Fundação Getulio Vargas) e um dos autores do estudo, as empresas de pequeno porte, sobretudo MEIs e microempresas, já sofriam com a falta de crédito em condições normais de mercado, o que foi agravado agora. "O crédito é importante para essas empresas resistirem, pois elas podem se ajustar fazendo demissões, o que aumenta o desemprego num momento já de crise e recessão". Ele aponta que o crédito tem um efeito direto de tentar preservar a maior quantidade possível de empresas no país, mas também um efeito indireto de mitigar os impactos socioeconômicos negativos sobre o emprego e a renda. "Estamos falando muitas vezes de uma pessoa que vive daquela empresa e que tem um ou dois empregados. A sobrevivência dessa empresa significa a sobrevivência do próprio fluxo de renda dessa pessoa e dos seus funcionários".
Fonte: Agência Bori
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