Indústria automobilística tem leve recuperação em agosto

Porém, setor chega a níveis que, sem a pandemia, já teriam sido atingidos em meados de maio
Um segmento que não tem sentido a crise é o de máquinas agrícolas e rodoviárias, graças aos bons resultados do agronegócio

O mês de agosto registrou os melhores números desde o início da pandemia da Covid-19, o que comprova que a crise mais aguda ficou delimitada ao segundo trimestre. Na comparação com julho, a produção de veículos se destacou (210,9 mil unidades), com crescimento de 23,6%, de acordo com levantamento divulgado pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) nesta sexta-feira (4). Os licenciamentos (183,4 mil) cresceram 5,1%, enquanto as exportações (28,1 mil) caíram 3,4%. No entanto, quando confrontados com os volumes de agosto do ano passado, esses indicadores tiveram quedas superiores a 20%, alertando para um longo caminho de recuperação.

No acumulado dos primeiros oito meses, a comparação é ainda mais desfavorável. Os licenciamentos (1.166,7 mil) recuaram 35%, as exportações (176,7 mil) encolheram 41,3% e a produção (1.110,8 mil) despencou 44,8%, repetindo volumes similares aos de quase duas décadas. "É como se perdêssemos três meses de vendas internas e quase quatro meses de produção", comparou Luiz Carlos Moraes, presidente da entidade em uma coletiva de imprensa on-line que reuniu mais de 150 jornalistas de todo o Brasil. "Se não fosse a pandemia, na metade de maio já teríamos chegado aos patamares atingidos nesse fechamento de agosto", revelou, evidenciando o tamanho das perdas do setor automotivo.

O setor de caminhões, apesar da retração de 15,3% nos emplacamentos de agosto (8,1 mil unidades) sobre julho, ainda apresenta quedas menos dramáticas no acumulado do ano, com recuo de 14,9% nas vendas e 17,8 nas exportações. Já na produção, as perdas são de impressionantes 36,6%. O diretor de Relações Governamentais e Institucionais da MAN Latin America e também vice-presidente da Anfavea, Marco Saltini, negou o fato de que estejam faltando caminhões no mercado, reclamação feita em um evento recente da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave). "Isso é explicado não pela ausência de produtos em termos de volume, mas sim de mix. Um ou outro interessado não deve ter encontrado um determinado modelo de caminhão, algo comum [de acontecer] nesse segmento", detalhou.

Um setor que não tem sentido a crise é o de máquinas agrícolas e rodoviárias, pois tem sido o menos prejudicado pela pandemia, graças aos bons resultados do agronegócio. As vendas internas apresentaram leve recuo de 2,7% no mês, mas no acumulado do ano atingiram 28,5 mil unidades, 1,8% a mais que o mesmo período de 2019. Alexandre Bernardes de Miranda, responsável pelas relações governamentais da FCA, do grupo CNH Industrial, e também vice-presidente da associação, o maquinário de construção também tem mostrado boa recuperação. "Não há fazenda de médio ou grande porte hoje que não conte com uma retroescavadeira, por exemplo. Os agricultores estão capitalizados e os preços dos grãos em elevado patamar, cenário que faz com que eles busquem adquirir máquinas agrícolas e implementos rodoviários. Por essa s razoes que eu digo que o segmento não está bem – e sim muito bem", comemorou.

Moraes se mostrou muito preocupado com a ociosidade global das montadoras. "Se antes da pandemia nós já alertávamos para a falta de competitividade do nosso país, agora a situação é ainda mais urgente. O mercado global de veículos deve encolher de 91 milhões de unidades em 2019 para menos de 75 milhões em 2020, gerando uma ociosidade inédita na indústria global. Só atacando as causas do Custo Brasil é que teremos condições de evitar um encolhimento do setor automotivo brasileiro", alertou. Ele também relatou que reajustes de preços de automóveis seguirão sendo frequentes, pois algumas empresas estão sendo pressionadas pela alta cotação do câmbio. "Cada montadora tem sua dor, pois é um grande dilema ter de vender por um preço maior quando o volume [de produção e vendas] é menor. Porém, de outro lado, é vital ter margem maior [de lucro] para dar conta dos custos fixos", avaliou.

Por esses motivos, o presidente da Anfavea voltou a cobrar o governo para que dê melhores condições para as companhias exportadoras. Ao responder uma pergunta do Portal AMANHÃ, Moraes relatou um encontro na semana com Paulo Guedes, ministro da Economia, onde debateram o tema. "Ele concordou comigo que o BNDES pode agir mais fortemente no apoio às exportações, assim como fazem outros grandes bancos de desenvolvimento em todo o mundo. Precisamos de apoio para baratear o crédito para exportação ou mesmo o seguro envolvendo transações do gênero", contou.

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Quinta, 12 Dezembro 2024

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