Despesa crescerá 1,7% acima da inflação no primeiro ano do arcabouço

Expansão fica abaixo do teto de 2,5% instituído pela nova regra
Apesar de dizer que o cumprimento da meta é possível, Haddad admitiu que o cenário fiscal para o próximo ano é desafiador

No primeiro ano do novo arcabouço fiscal as despesas do governo federal crescerão 1,7% acima da inflação, prevê o projeto de lei do Orçamento de 2024, enviado na quinta-feira (31) ao Congresso Nacional. A expansão está abaixo do teto de 2,5% de crescimento real (acima da inflação) definido pela nova regra fiscal. O novo arcabouço fiscal permite que as despesas cresçam acima da inflação, dentro de uma banda entre 0,6% e 2,5%. O percentual de crescimento real (acima da inflação) está atrelado às receitas. Isso porque o novo marco fiscal estabelece que os gastos aumentem até 70% da alta real das receitas nos 12 meses terminados em junho do ano anterior ao do Orçamento. Para 2024, o período de cálculo da inflação valerá entre julho de 2022 e junho de 2023.

Como o projeto do orçamento prevê crescimento de 2,43% das receitas em 2024 acima da inflação no próximo ano, o aumento real das despesas, ao aplicar o percentual de 70% do crescimento das receitas, ficará em 1,7%. Em valores absolutos, o governo terá uma expansão de R$ 128,9 bilhões em novas despesas. Desse total, R$ 32,4 bilhões estão condicionados à aprovação pelo Congresso de um crédito suplementar em 2024 para incorporar ao orçamento a alta da inflação prevista para o segundo semestre deste ano. A maior parte dos R$ 128,9 bilhões se destinará a gastos obrigatórios, como a correção dos pisos para a saúde e a educação, pagamento das aposentadorias e pensões, programas sociais e o novo limite mínimo para investimentos de 0,6% do PIB instituído pelo novo arcabouço fiscal.

Apesar do limite de 1,7%, o arcabouço tem uma brecha que pode permitir um crescimento maior dos gastos no primeiro ano de vigência da nova regra. O mecanismo tem como objetivo incorporar a retomada dos pisos de 15% da receita corrente líquida (RCL) para gastos com a saúde e de 18% da receita líquida de impostos (RLI) para educação. Pela brecha, caso a arrecadação cresça mais que os 2,43% já estimados, a equipe econômica poderá incorporar a diferença ao limite de crescimento das despesas. Dessa forma, os gastos poderão se expandir em 2,5% no próximo ano.

O novo arcabouço fiscal prevê resultado primário zero (nem déficit e nem superávit) em 2024, com uma margem de tolerância de 0,25 ponto percentual, podendo variar entre 0,25 de déficit e 0,25 de superávit em 2024. O resultado primário representa o déficit ou superávit nas contas do governo sem os juros da dívida pública. O projeto estipula meta de um pequeno superávit primário de R$ 2,8 bilhões em 2024, equivalente a 0% do PIB. Para cumprir essa meta, o governo precisará de R$ 168 bilhões no próximo ano. Em entrevista coletiva, em Brasília, a ministra do planejamento, Simone Tebet, esclareceu que esse valor se refere à receita bruta. Ao descontar os repasses obrigatórios aos estados e aos municípios, a necessidade de receitas cai para cerca de R$ 124 bilhões, próximo ao valor da expansão das despesas.

Apesar de dizer que o cumprimento da meta é possível, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, admitiu, na mesma entrevista coletiva, que o cenário fiscal para o próximo ano é desafiador. Ele, no entanto, assegurou que a equipe econômica está comprometida em medidas que revertam a erosão fiscal (perda de receitas) em vigor desde 2014 e permitam o déficit zero. "Não estamos negando o desafio. Não estamos negando a dificuldade. O que estamos afirmando é o compromisso da área econômica em obter o melhor resultado possível, obviamente, que levando em consideração a opinião do Congresso, que é quem dá a última palavra", argumentou Haddad.

Com Agência Brasil

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