Um indício auspicioso
Já passava da hora, mas finalmente parece que estamos chegando lá. Depois de anos de troca de farpas e xingamentos, os dois extremos do espectro político – aqueles que não raro tiram seu sustento identitário e pecuniário da radicalização – demonstram saudáveis indícios de cansaço do debate oco. E, talvez pela primeira vez em anos, deixam de lado os escândalos e as falcatruas alheias para fazer um aceno geral de concórdia e entendimento. Não se trata de uma trégua política real, mesmo porque esta pode ser rompida a qualquer momento por fatores externos. Trata-se, sobretudo, da exaustão de um modelo, ou de um intervalo (que oxalá seja duradouro) em que as relações de amizade teimam em prevalecer sobre querelas tão ensandecidas quanto rasas.
É claro que é de supremo mau gosto surfar as ondas pós-natalinas com discursos azedos sobre os pecadilhos impublicáveis dos filhos de dois presidentes – um ex e o outro atual, até nisso semelhantes. Tampouco é de bom tom estampar em redes sociais inflamadas declarações de principio, simplesmente porque a maioria das pessoas tende a passar ao largo e a ignorar esses acessos de civismo e de indignação extemporâneos. É tempo ruim para haters de forma geral. Nesse contexto, o que eu mais desejo é que esse estado de espírito atravesse incólume o verão e chegue a março sem grandes recaídas. Se isso acontecer, teremos dado um passo para encarar com pragmatismo as eleições de 2020, elegendo quem merece.
Feliz 2020.
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