O casamento de um amigo

Sábado tenho um casamento a que faço questão de comparecer. Para o noivo, é uma união em segundas núpcias. Para ela, acho que são as primeiras. Jovial e animado, ele aparenta uns 15 anos a menos do que deveras tem – ou seja, está igual a quando o con...
O casamento de um amigo

Sábado tenho um casamento a que faço questão de comparecer. Para o noivo, é uma união em segundas núpcias. Para ela, acho que são as primeiras. Jovial e animado, ele aparenta uns 15 anos a menos do que deveras tem – ou seja, está igual a quando o conheci, no começo do milênio. Trata-se de um homem de interesses múltiplos nessa vida, o que já é para ela a garantia de um ótimo começo. Pelo pouco que me disse, ele também a admira bastante e está até reorientando seus negócios de forma a acolhê-la no que se chama de uma união fusional – como se fazia nos velhos tempos. 

Há pouco, quando me chegou o lembrete pelo WhatsApp, me peguei matutando sobre um caso isolado sucedido recentemente, e que me dá o que pensar. Aconteceu em Veneza. Um casal que já vivia maritalmente há oito anos, resolveu oficializar a união. Ofereceu então uma festa para 200 convidados e, fiéis ao padrão de sua nacionalidade, emitiu convites com nove meses de antecedência, um prazo quase temerário para germânicos. Na recepção, segundo o testemunho de um amigo, não podia haver imagem mais perfeita de felicidade e concórdia. E foram para a lua de mel. 

Mas imaginem só o que aconteceu. Nem bem o outono europeu começava, lá por meados de outubro, um escasso mês depois da festa monumental, eles se separaram. O registro da papelada ainda tramitava quando correu a notícia de que o casal já não existia. E que o apartamento que tinham ocupado durante anos em prestigiosa cidade europeia à beira do lago Léman, estava sendo desocupado. Só me ocorreu o refrão da musiquinha: se foi para desfazer por que é que fez? O que será que aconteceu na lua de mel que levou a semelhante anticlímax? Alguma revelação? Uma inconfidência?

É claro que casamento é uma coisa meio lotérica. Mas numa época de estímulos múltiplos, de convívio mais superficial do que profundo, não é de surpreender que muita gente se sinta decepcionada em pouco tempo, uma vez superada a adrenalina da recepção, das fotos para o Instagram e do reencontro com os amigos. De qualquer forma, continua me intrigando o que poderia ter acontecido a este especificamente. Seja como for, melhor sorte caberá a meu amigo que, encantado com sua musa, está determinado a viver pelo menos uns 40 anos de intenso amor. Que assim seja. 

Para o que der e vier, ainda é tempo. Depois não me venham com surpresas. 

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Quinta, 12 Dezembro 2024

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