"Eu quero ter uma vida como a sua"

Das inúmeras ferramentas das redes sociais, só conheço o Facebook e, mais recentemente, tenho feito incursões ao Instagram. Mas embora tome cuidado extremo ao mexer no teclado quando estou nessas plataformas, vez por outra o dedo escapa e lá caio eu ...
"Eu quero ter uma vida como a sua"

Das inúmeras ferramentas das redes sociais, só conheço o Facebook e, mais recentemente, tenho feito incursões ao Instagram. Mas embora tome cuidado extremo ao mexer no teclado quando estou nessas plataformas, vez por outra o dedo escapa e lá caio eu numa seara totalmente desconhecida. Foi o caso do dia em que desaguei num serviço de mensagens que eu nunca usara, e onde moravam dezenas de recados de cunho mais pessoal cuja existência eu ignorava por completo. Não teria sido mais fácil para essas pessoas ter se valido do "in-box" do Facebook, tão mais prático? Seja como for, uma mensagem em especial me chamou a atenção. Vinha de uma jovem do Rio Grande do Norte. Segundo ela, acompanhava regularmente minhas postagens no Facebook e textos de minha autoria publicados na imprensa. A pergunta que não queria calar era: como viver igual à minha vida?  

É claro que achei a pergunta mais divertida do que séria. Mas vou fazer aqui algumas digressões sumárias, na esperança de que ela possa vê-las no Facebook, se é que ainda me acompanha, depois da grosseria que cometi ao não lhe ter respondido a indagação singela. Como pretendo ser objetivo, até para resistir à tentação de escrever um arrazoado biográfico, me permito dizer a título introdutório que cada vida tem suas singularidades. Ademais, a que optei por levar pode até suscitar uma ou outra reação de admiração, mas o contrário é mais corrente. Normalmente as pessoas dizem que não suportariam viver minha vida por mais de alguns dias e eu devo pensar o mesmo com respeito à delas, embora não precise dizer isso. De qualquer sorte, matutei um mínimo sobre a questão e posso alinhar três vertentes que me balizaram os passos para viver o que vivi e como vivi. É surpreendente como estão interligadas.     

Seja desprendido
Para muitos amigos, essa característica foi absolutamente fundamental na minha formação como pessoa. Para outros tantos – talvez até mais numerosos –, esse é o traço mais indesejável. Do que se trata? Ora, não se prenda a nada que não esteja alinhado com a alegria de viver e o aprendizado permanente. Nunca optei por um trabalho estritamente em função do dinheiro que podia me proporcionar nem nunca bati à porta de um empregador – dos poucos que tive – para pedir um aumento. É claro que eles eram bem-vindos e eu os acolhia como prova de reconhecimento. Mas nunca alimentei qualquer sonho de consumo não ligado à fruição de bons momentos ao lado da pessoa amada e na companhia de um bom livro. Pelo próprio estilo de vida adotado, nunca pude me dar ao luxo de ter apego excessivo a amigos, família, rotinas e moradia. Aos 58 anos, isso começa a pesar. Mas é o preço.         

Ignore a sabedoria convencional
Não dê muita importância ao que as pessoas dizem. Apesar de passar ao largo de conselhos repetitivos e previsíveis, gastei alguns anos de minha vida me torturando por querer fazer as coisas mais ou menos como os outros faziam. Foi uma libertação quando vi que a vida me pertencia e eu não tinha que comprar um apartamento porque todo mundo sonhava em ter uma morada. Ora, viver de aluguel é muito mais estimulante e econômico. Além do mais, estimula mudanças regulares. Vou mais longe. Quando te disserem que aprender turco ou albanês é pura perda de tempo, não se importe. Pode ser que para você esse conhecimento venha a abrir portas que eles sequer enxergam. Crie um acervo de regras que reflitam seus valores e trate de compatibilizá-los com o de seu mundo. Se forem muito conflitantes, se mude de lugar e vá morar na Tailândia ou na Sibéria. O mundo é seu.

Vá onde o coração mandar
Perdi alguns dias preciosos na vida estudando coisas de que não gostava, quando havia um universo imenso de pautas interessantes que me incendiavam a imaginação. Pois bem, depois de adulto deixei a trigonometria pelo caminho e me entreguei devotadamente à literatura e à arte de viajar. O mesmo valeu para meus relacionamentos afetivos. Sou sensível ao ponto em que eles começam a apresentar sinais evidentes de fadiga de material para ambas as partes. E a arremetida pode parecer exaustiva, quase desumana. Nessas horas, antes mesmo que apareça alguém na sua vida, é bom sentar e acertar amigavelmente os termos de partida. Pode até doer um pouco no começo, mas logo você vai se reencontrar nas pegadas de onde o seu coração quiser levá-lo. É claro que o cérebro não pode virar mero espectador. Mas ele tem de ser acessório do coração, e não o contrário.             

Pois bem, antes tarde do que nunca. Com bastante atraso, você, cara leitora, tem aqui um simulacro de resposta. Espero que algo disso tudo possa ficar.  

Veja mais notícias sobre Comportamento.

Veja também:

 

Comentários:

Nenhum comentário feito ainda. Seja o primeiro a enviar um comentário
Visitante
Quinta, 21 Novembro 2024

Ao aceitar, você acessará um serviço fornecido por terceiros externos a https://amanha.com.br/