Muito barulho por nada
Um aspecto da vida porto-alegrense chamou a atenção do militar austríaco Joseph Hörmeyer quando esteve no país, na década de 1850: o gosto pelos fogos de artifício. “Nos dias de festas”, escreveu ele em livro de memórias sobre sua viagem ao Brasil, “(...) são queimados fogos de artifício, tanto na véspera quanto no dia da festa, (...) sem ter-se outro prazer a não ser o estouro e a fumaça”. O costume local também surpreendeu o alemão Hugo Zöller que, três décadas mais tarde, diria que, na capital gaúcha, “foguetes servem para expressar uma escala inteira de emoções, eles se prestam tanto para a alegria e consideração quanto para o ódio e o desprezo”. O resultado, em um caso ou outro, era a “a cidade inteira (...) coberta de fumaça e pólvora”.
Mais de um século depois, pouco ou nada mudou por aqui. Estamos às vésperas da data na qual os fogos ocupam a linha de frente das comemorações: o ano novo. Desde cedo, no dia 31, ouviremos bombas estourando, até culminar com uma detestável sinfonia de estrondos entre as 23h e as 24h. Para quê? Para nada.
Fogos de artifício coloridos, daqueles soltados em comemorações ao redor do mundo, são belos espetáculos visuais – e, lembremos, operados por profissionais. Foguetes, rojões e bombinhas, que constituem os instrumentos das comemorações amadoras, no entanto, têm como único propósito fazer barulho. Barulho que acorda crianças pequenas, assusta e traumatiza animais domésticos e transtorna o dia e a noite daqueles que só querem um pouco de silêncio. Isso quando não provocam acidentes graves entre aqueles que os manipulam ou têm o azar de estar por perto.
Nenhum dos viajantes citados na abertura deste post mencionou abertamente, mas posso supor que, aos europeus daquela época e aos que estão por aqui atualmente, o costume de soltar foguetes e rojões pareça um tanto quanto primitivo. E é. Alguém pode argumentar que se trata de uma tradição, mas isso pouco importa: tradições mudam. E seria uma ótima maneira de nos despedirmos de 2017 e saudarmos 2018 abandonar tamanha tolice quanto a barulheira do dia 31.
Serviço: os trechos do primeiro parágrafo foram extraídos de “Os viajantes olham Porto Alegre”, de Valter Noal Filho e Sérgio da Costa Franco (Editora Anaterra, 2004).
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