Copom eleva juros básicos da economia para 2,75% ao ano

É a primeira vez em seis anos que a Selic volta a subir
Segundo o Banco Central, o agravamento da pandemia pode atrasar o processo de recuperação econômica, produzindo trajetória de inflação abaixo do esperado

Em meio ao aumento da inflação de alimentos que começa a estender-se por outros setores, o Banco Central (BC) subiu os juros básicos da economia pela primeira vez em quase seis anos. Por unanimidade, o Comitê de Política Monetária (Copom) elevou a taxa Selic de 2% para 2,75% ao ano. A decisão surpreendeu os analistas financeiros, que esperavam uma elevação para 2,5% ao ano.

Com a decisão, a Selic subiu pela primeira vez desde julho de 2015, quando tinha sido elevada de 13,75% para 14,25% ao ano. A taxa permaneceu nesse nível até outubro de 2016, quanto o Copom voltou a reduzir os juros básicos da economia até que a taxa chegasse a 6,5% ao ano em março de 2018. Em julho de 2019, a Selic voltou a ser reduzida até alcançar 2% ao ano em agosto de 2020, influenciada pela contração econômica gerada pela pandemia. Esse foi o menor nível da série histórica iniciada em 1986.

Segundo os membros do Comitê, o agravamento da pandemia pode atrasar o processo de recuperação econômica, produzindo trajetória de inflação abaixo do esperado. "Por outro lado, um prolongamento das políticas fiscais de resposta à pandemia que piore a trajetória fiscal do país, ou frustrações em relação à continuidade das reformas, podem elevar os prêmios de risco. O risco fiscal elevado segue criando uma assimetria altista no balanço de riscos, ou seja, com trajetórias para a inflação acima do projetado no horizonte relevante para a política monetária", revela o comunicado. 

O Copom também informou que deve manter a trajetória de alta da Selic no próximo encontro agendado para os dias 4 e 5 de maio. "Para a próxima reunião, a menos de uma mudança significativa nas projeções de inflação ou no balanço de riscos, o Comitê antevê a continuação do processo de normalização parcial do estímulo monetário com outro ajuste da mesma magnitude", antecipa o BC.

"O Copom avalia que perseverar no processo de reformas e ajustes necessários na economia brasileira é essencial para permitir a recuperação sustentável da economia. O Comitê ressalta, ainda, que questionamentos sobre a continuidade das reformas e alterações de caráter permanente no processo de ajuste das contas públicas podem elevar a taxa de juros estrutural da economia", alerta o BC no documento.

Impacto negativo
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) considerou precipitada a decisão. O presidente da entidade, Robson Braga de Andrade, afirmou que a segunda onda da Covid-19 trouxe a necessidade de implementação de novas medidas de isolamento social, o que terá impacto negativo sobre a demanda e, assim, deve reduzir o ritmo de elevação nos preços de bens e serviços. "Consideramos que a decisão de aumento da taxa Selic deveria ter sido postergada até que os efeitos das medidas de isolamento sobre a demanda e, consequentemente, sobre a trajetória da inflação pudessem ser avaliados", declarou Andrade, por meio de nota.

Desta forma, entende a CNI, apesar da trajetória recente de aumento, o momento seria de esperar para avaliar o comportamento da inflação em um ambiente de restrição da demanda. De acordo com a confederação, o aumento da taxa de juros é um elemento adicional de contração da demanda, desnecessário na atual conjuntura. Além disso, diz ainda a CNI, a elevação da taxa Selic provoca aumento no custo de financiamento para empresas e consumidores em um momento em que a necessidade de financiamento tende a aumentar.

Para a Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs) a decisão reflete o início do ciclo de aperto monetário e a preocupação com a pressão inflacionária dos últimos meses. "O descasamento entre oferta e demanda se mostrou mais persistente do que esperado, por isso vemos uma escalada da inflação, provocada pelo aumento de custos. A elevação dos juros é a resposta para combatê-la, mas penaliza a atividade produtiva em um momento tão desafiador", disse, em nota, o presidente Gilberto Petry.

Segundo ele, o caminho indicado seria o de uma melhor administração da dívida pública por meio do corte ou mais eficiência nos gastos. "Isso contribuiria para reduzir o risco fiscal do Brasil e segurar a desvalorização cambial. O Real mais fraco resulta em pressão sobre os preços de diversos produtos que têm sua cotação atrelada à moeda externa, como é o caso dos combustíveis", destacou. As Federações de Indústrias do Paraná (Fiep) e de Santa Catarina (Fiesc) não emitiram opinião até o fechamento desta edição. 

Com Agência Brasil

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Quinta, 12 Dezembro 2024

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