Uma empresa contra a lógica
Antes de entrar na mira da CPI da covid-19 por práticas médicas questionáveis, a operadora de saúde Prevent Senior destacava-se por outros motivos: o de ser rentável com uma carteira de clientes majoritariamente acima de 60 anos. Ou, para tomar emprestada a expressão de três pesquisadores norte-americanos que trataram de casos semelhantes em um artigo, por ter se tornado um "negócio de sucesso com clientes que ninguém quer" (Rosenblum, Tomlison e Scott, Harvard Business Review Brasil, março 2003).
Sim, pode parecer politicamente incorreto ou até cruel, mas existem alguns clientes que são fontes de prejuízo, e dos quais as empresas, em geral, procuram manter-se distantes. Idosos em planos de saúde são um deles, devido aos elevados gastos esperados com todos os tratamentos médicos que a velhice exige. Mas como os próprios acadêmicos citados acima sugeriram, sempre é possível dar-se um jeito para transformar pedra bruta em diamante – e a Prevent Senior encontrou o seu.
No caso da operadora paulista, os esforços de prevenção é que fizeram a diferença para os resultados positivos. Atividades físicas e culturais promovidas pela Prevent ajudam não apenas a manter corpo e mente sãos, como também a espantar a solidão, graças à socialização que proporcionam – e o contato com outras pessoas, sabe-se bem, é um antídoto contra o adoecimento.
Além das palestras sobre temas atinentes à terceira idade e a existência de um médico tutor de cada paciente, responsável por acompanhar seu quadro clínico mais de perto, diferenciais que ajudam a manter os temidos custos sob controle (conforme a Exame, dezembro 2019).
Mais detalhes sobre as razões do sucesso da Prevent Senior, desconheço. Mas alguns dos que Rosenblum e colegas propuseram em seu artigo para companhias em situação similar, compartilho aqui. São eles: ter uma linha de produtos ou serviços simplificada, manter despesas mínimas com marketing, proporcionar atendimento pessoal e cordial, promover uso criterioso de tecnologia e voltar-se à eficiência estrutural.
Agora, o modelo de negócios vencedor da Prevent Senior está em risco não por qualquer problema econômico ou gerencial, e sim por uma falha em seu core business, o atendimento médico. Muito antes de toda essa confusão gerada pela pandemia, um dos proprietários chegou a dizer, com orgulho, que a empresa contrariava "a lógica do mercado de saúde" ao priorizar idosos. Sua derrocada pode se dar, curiosamente, por contrariar outra lógica – a da medicina.
DIREITO DE RESPOSTA
Em respeito aos leitores de AMANHÃ, é preciso por alguns fatos em perspectiva. O primeiro é que o colunista André D´Angelo opinou sem ter acesso a dados que, com certeza, reverteriam seu julgamento. O primeiro deles é que a empresa não descurou da medicina. Salvou mais de 50 mil pacientes de Covid-19, além de adotar um programa de testagem com mais de 500 mil atendimentos – ao todo, com investimentos de mais de R$ 350 milhões, abriu hospitais e contratou novos profissionais de saúde. A pandemia não implicou prejuízo ao tratamento de outras doenças. Foram realizadas mais de 98 mil cirurgias no período, apenas para ficar num exemplo neste curto espaço. Julgar o modelo de negócios da empresa por conta de uma crise provocada pelo linchamento público e político de uma CPI, antes da realização de investigações técnicas que restabelecerão a verdade dos fatos, é, no mínimo, um método de análise equivocado.
Lucas Tavares
Comunicação e Assessoria de Imprensa
Prevent Senior
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