Dez, nota dez!

Cases de marketing no Carnaval de rua
O desodorante não era vendido pelo ambulante Fernando Henrique Rodrigues como produto, e sim como serviço

A TV Globo pode não ter se dado muito bem no Carnaval deste ano, com audiências baixas e cotas de patrocínio encalhadas (leia aqui e aqui). Mas alguns empreendedores beeeem mais modestos, atentos aos blocos de rua, se deram bem – e, de quebra, ofereceram lições de marketing a todos nós.

Primeiro foi uma jovem, em Belo Horizonte, que vendeu beijos. Sim, ósculos: selinho a R$ 1 e de língua a R$ 5. A inspiração para o serviço inusitado veio das barracas de beijo, comuns em festas juninas. Uma forma clássica de inovação, diga-se de passagem: levar algo que funciona num dado mercado para outro. E de fazer uma graninha para reinvestir no próprio negócio, que nem era a beijação, mas a curtição do Carnaval: faturou R$ 400, gastos na própria festa. Mostrou-se atualizada na aceitação de meios de pagamento – Pix e dinheiro – e competente no up selling (os demorados pagavam mais) e na fidelização (alguns voltaram para repetir a dose – saiba mais aqui).

Também em Belo Horizonte, um vendedor viu-se diante da necessidade de diferenciar sua oferta. Ambulantes com cerveja, refrigerante e água haveria aos montes, como em todo evento de rua. Mas baseado na própria experiência, de que nesses lugares sempre bate uma vontade de ir no banheiro, levou papel higiênico, absorvente e desodorante para o meio do povo. O desodorante não era vendido como produto, e sim como serviço, como bem mandam as tendências atuais do marketing: cada borrifada, R$ 2.

O mesmo serviço fez sucesso em Aracati, Ceará. "Desodorante vencido? Resolvo sem problema", dizia a placa carregada às costas por uma vendedora. Uma bela forma de propaganda: a placa, sustentada por uma vareta comprida, era visível para qualquer folião. E devidamente ilustrada pela imagem de uma pessoa prendendo a respiração, naquele gesto típico de quem se protege de um cheiro ruim. Nada como explorar os temores sociais dos consumidores...

Atenta à precificação, a borrifada saía a R$ 1,99 por axila, pois preços terminados em 9 são mais atrativos. E a destinação dos recursos arrecadados no Carnaval não poderia ser mais up to date em tempos de ESG: custear um abrigo de animais abandonados. A ambulante fez tanto sucesso que viralizou nas redes sociais: "eu queria só R$ 1 por cada foto ou postagem sobre mim". Ué, e por que não diversificar e ano que vem cobrar pelos direitos de imagem?

O reconhecimento não se resumiu a isso. "Empreendedorismo, inovação e criatividade são palavras que falaram para mim. 'Marketing de milhões' também estão falando muito". A esses adjetivos, acrescento uma frase muito ouvida nessa época do ano e muito merecida para todos os casos citados neste texto:

Dez, nota dez!

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Terça, 08 Outubro 2024

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