Farsul, ABPA e Embrapa lançam iniciativa para desenvolver agropecuária gaúcha

Trabalho vai considerar os potenciais das regiões Norte e Sul do Rio Grande do Sul
“Temos uma enorme produção de soja no verão, e em compensação, chega no inverno nós temos uma safrinha, eu diria assim, de trigo e o resto da área está lá, praticamente ociosa ou com cobertura vegetal, em vista à cultura de soja", contextualiza Gedeão Pereira, presidente do Sistema Farsul

O Sistema Farsul, a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) lançaram um projeto conjunto para o desenvolvimento da agropecuária do Rio Grande do Sul. O objetivo é trabalhar de forma conjunta com duas frentes. Uma para a agricultura, especialmente as safras de inverno da região Norte, e outra para a pecuária, principalmente bovinocultura de corte, da região Sul. Todo trabalho consiste na análise das características de cada uma das localidades e o resultado não impactará apenas em aumento de produtividade, mas trará reflexos também no campo econômico e social do estado.

Gedeão Pereira, presidente do Sistema Farsul, destaca que o Rio Grande do Sul possui características diferentes dos demais estados e particularidades climáticas e geográficas dentro do seu próprio território. Essa é a justificativa para que o trabalho seja dividido, respeitando essas diferenças para aproveitar ao máximo o seu potencial. "Nós, do Sistema Farsul, vínhamos pensando em gestar algo para o Rio Grande do Sul considerando essas características. Tínhamos uma grande preocupação e o ex-ministro Turra [Francisco Turra, presidente do Conselho Consultivo da ABPA] deu o empurrão", confidencia.

A ABPA procurou a Farsul preocupada com a escassez da oferta de milho para a ração animal no Rio Grande do Sul, obrigando a importação do produto e, consequentemente, o aumento dos custos e perda de renda do produtor. Isso deu início às conversas que resultaram no convite à Embrapa, que vem desenvolvendo pesquisas no uso do trigo e outras culturas de inverno para a substituição do milho na alimentação animal, principalmente para suínos e aves. "Na realidade o Rio Grande do Sul não tem safra e safrinha, diferentemente do Brasil Central, enquanto eles já estão falando em três safras, nós estamos com 1,09 safra. Temos uma enorme produção de soja no verão, e em compensação, chega no inverno nós temos uma safrinha, eu diria assim, de trigo e o resto da área está lá, praticamente ociosa ou com cobertura vegetal, em vista à cultura de soja", contextualiza Gedeão.

Para a região Sul, Gedeão aponta um processo diferente. A área é uma nova fronteira agrícola brasileira, com forte expansão da cultura de soja que começa a subtrair rapidamente os hectares da pecuária de corte. "Como a pecuária de corte é uma das principais atividades dos campos do Pampa, juntamente com arroz irrigado, hoje ela está se defrontando com a lavoura de soja. E nosso pensamento é que em vez de serem inimigas, elas devem ser aliadas", avalia.

Turra explicou que procurou diversas entidades para tratar do problema da redução de oferta de ração animal. "Uma coisa é uma boa ideia, outra é ela ser aceita e ter propagadores, o êxito está nisso. Nenhum dos atores que procurei foi tão rápido quanto o presidente Gedeão", declara. "No Rio Grande do Sul, quando acontece uma seca brutal como na safra passada, a perda de renda para todo mundo foi muito forte. Falando sobre o ponto de vista da proteína animal, abrimos um canal para o mundo que hoje é irreversível", afirma ao demonstrar preocupação na manutenção das exportações e em sua expansão.

O economista-chefe do Sistema Farsul, Antônio da Luz, apresentou dados de um levantamento realizado pela assessoria econômica da federação que apontam que a produção da safra de inverno do estado representa apenas 9% do tamanho da safra de verão. Enquanto isso, a pecuária gaúcha vem apresentado desempenho inferior em relação à média brasileira. Entre 1990 e 2019, a população do rebanho bovino teve queda de 0,5% ao ano, enquanto o país cresceu 1,3% anualmente. Os abates aumentaram 0,9% ao ano frente ao país que avançou 3,1%. Em comparação, Rondônia teve aumento médio de 7,6% anual. do rebanho e 14,1% nos abates no mesmo período.

No caso dos suínos, o Rio Grande do Sul viu seu rebanho crescer, em média, 1,4% ao ano, enquanto o Paraná registra alta de 2,3% e Santa Catarina, 2,9%. A grande oferta de milho na região favoreceu o crescimento da produção. Isso também influenciou no abate. Enquanto o Rio Grande do Sul aumentou seus números em 2,9% anualmente, em média, Mato Grosso registrou elevação de 7,4% no mesmo período.  Acesse aqui a íntegra do estudo preliminar feito pelo Sistema Farsul.

Esse cenário está interligado à produção agrícola. A oferta atual de milho limita a ampliação dos rebanhos e, consequentemente, os abates. Ao mesmo tempo, o estado possui uma área ociosa no inverno que pode ser aproveitada para o aumento da produção das culturas de inverno.

O problema pode se transformar em oportunidade, e, para isso, a Embrapa foi convidada para compor o grupo. A projeção da Farsul é de que o aumento da área plantada nas culturas de inverno, como forma de garantir e ampliar a demanda por ração animal, unida ao desenvolvimento da produção da pecuária no estado aos níveis nacionais, significaria um incremento de R$ 12,1 bilhões em uma safra como a de 2020. O impacto no PIB gaúcho seria de 6,9% (aproximadamente R$ 31,9 bilhões). Também seriam gerados 24 mil empregos diretos na agropecuária.

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Sexta, 13 Dezembro 2024

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