Pobreza de pauta

Não sou jornalista. Logo nunca participei de uma reunião de pauta. A única coisa de que tenho certeza nesse terreno, é que sobra notícia – tanto boa quanto ruim – para preencher milhares de páginas e centenas de horas dos noticiosos televisivos. Mesmo que nada de tremendamente impactante esteja acontecendo na fronteira turco-síria ou que as praias do Nordeste não estejam sendo salpicadas de misteriosas manchas de petróleo, mesmo assim, insisto, haveria a contar sobre a chegada do outono na Lapônia ou a veicular uma resenha bem adubada sobre os dois ganhadores do prêmio Nobel de literatura. O que quero dizer é que temos uma escala de relevância descomunal a percorrer até que tenhamos de encher vazios com frivolidades comerciais, que contemplam tão somente o interesse de tribos muito específicas. 

A que me refiro? Ora, a essa mania do jornalismo da rede Globo de inserir em seus noticiosos um bloco polpudo sobre concertos de "rock and roll' ou quejandos. Até a semana passada, as grandes chamadas eram para o "Rock in Rio" (foto). Já na quinta, o destaque foi para outro, chamado "Lollapalooza", a acontecer em abril do próximo ano. Está fora de dúvida que o canal de televisão deve ter interesses comerciais enlaçados com ambos. Mas ora, sempre pensei que havia uma separação nítida entre "Igreja e Estado", ou seja, entre as áreas editoriais e comerciais. É nesse contexto que me pergunto sempre que interesse informativo têm esses acontecimentos para o público em geral. Respondo: nenhum. Nessas horas, fico pensando sempre se restaria algum tempo à BBC se tivesse de abrir espaço para todo evento musical que acontece em Londres. 

Para mim, isso é subdesenvolvimento puro.