Galló: "O futuro será bastante divertido"

Os pesquisadores do fenômeno Lojas Renner ganham, a partir desta terça-feira (26), uma fonte de informação de quase 260 páginas organizada sob a ótica do seu próprio protagonista, o caxiense (na verdade, nascido no distrito de Galópolis) José Galló (...
Galló: "O futuro será bastante divertido"

Os pesquisadores do fenômeno Lojas Renner ganham, a partir desta terça-feira (26), uma fonte de informação de quase 260 páginas organizada sob a ótica do seu próprio protagonista, o caxiense (na verdade, nascido no distrito de Galópolis) José Galló (na foto, diante da loja recém-inaugurada em Montevidéu, no Uruguai). Ele assina o livro “O poder do encantamento”, que tem como subtítulo “As lições do executivo que, partindo de oito lojas, transformou a Renner em uma empresa de bilhões de dólares”. 

Com 15 capítulos, a obra percorre o início da formação profissional de Galló no campo da administração de empresas, passa por suas primeira experiências como empreendedor, na ModaCasa e Eletroshop, até desembocar no momento-chave de sua trajetória: quando ele ingressa na Lojas Renner e dá início à jornada que transforma uma pequena cadeia de lojas de origem familiar e circunscrita ao Rio Grande do Sul no mais importante varejo de moda do Brasil e, se seus planos tiverem êxito, no âmbito das Américas.

Confira a seguir um trecho do livro em que Galló se desprende do campo das memórias e fala sobre o futuro. É o capítulo “E a jornada continua.”

E A JORNADA CONTINUA

Cada vez mais, o futuro dos negócios é imprevisível. Palavras novas rapidamente se tornam corriqueiras, e mais do que o grafismo em si, o seu significado nos mostra que temos que tomar uma posição. Disrupção em qualquer setor ou negócio, fazer as coisas de uma forma diferente, mais rápida, mais barata, com menos investimentos. As barreiras desaparecem. Uma boa ideia encontra financiadores, jovens que aceitam aderir a um propósito muito mais pelo seu significado do que pela recompensa financeira.

A desmaterialização se faz presente: para que grandes investimentos em equipamentos? A nuvem resolve. Grandes equipes? Integrantes de pequenos grupos atuam separados fisicamente, transformando ideias em sistemas e processos rapidamente. Fazer a coisa totalmente certa? Não: incentive o erro e sua rápida correção, crie uma superagilidade, em oposição ao modelo do erro zero e seu longo tempo de maturação.

Grandes plataformas ameaçam o varejo, fintechs desafiam o sistema financeiro, blockchains põem em risco certificações e burocracias cartoriais. Existirão Bolsas de Valores no futuro, tais como hoje conhecemos? Os carros autônomos estão mais próximos do que imaginamos. E o car sharing? Como serão nossas cidades, se precisarmos de apenas 20% da atual frota de carros? E o que fazer com as atuais áreas de estacionamento? O que será dos postos de gasolina quando os carros elétricos dominarem o mercado? E as revendas? Carros elétricos hoje são vendidos em shopping centers... Oficinas de manutenção funcionarão em que base, considerando que um carro elétrico tem apenas 20 partes móveis contra as 2 mil de um carro convencional?  A proposito de shopping centers: que tipo de varejo abrigarão? Estamos preparados para a inteligência artificial? Como lidar com os analitics, a robótica, a impressão 3D, a realidade virtual, a internet, as redes e os sensores, a nanotecnologia, a bioinformática, a biotecnologia?

Em um primeiro momento, o novo é sempre assustador. Mas ele nunca se concretiza de uma só vez. Sempre houve e sempre haverá etapas, dando tempo para absorção e adaptações.  Estão aí os smartphones, os tablets etc., para comprovar. O mais importante será a atitude de cada um diante disso tudo. Ou somos avestruzes que enterram a cabeça para não conhecer a realidade ou vemos nesses cenários uma grande oportunidade de crescimento. 

Escolhi o segundo caminho. Vejo nessas novas ideias e tendências a oportunidade de renovação: elas fazem com que me sinta extremamente motivado para tudo isso que aí já está e, também, para o futuro.

Há outro olhar, tão essencial quanto o das novas tecnologias, porque também diz respeito à forma como vamos encará-las. Diz respeito à sustentabilidade, Pensar em sustentabilidade, hoje, é pensar em futuro mais pleno para as novas gerações – é pensar na perenidade do nosso negócio, sim, mas também, e fundamentalmente, no quanto ele agrega valor para a sociedade. 

Estamos diante de um novo ciclo, no qual as empresas precisam se adaptar para atender à demanda de um consumidor cada vez mais consciente. E, para continuarmos encantando, temos que ter coragem de trazer a sustentabilidade para o coração dos negócios, de forma a que ela esteja sempre presente nos produtos que entregamos, com propósito.

Importante dizer que as empresas que buscam sustentabilidade não abrem mão do lucro, mas geram cada vez mais valor no negócio, com eficiência nos três pilares: social, ambiental e econômico. Não esqueçamos que estamos inseridos em um mercado criativo, que pode influenciar consumidores e toda uma economia que busca soluções mais inteligentes que impactem positivamente a sociedade.

Especificamente na Lojas Renner, precisamos pensar no futuro do nosso negócio. Além do cuidado que temos com questões relacionadas a direitos humanos e trabalhistas, precisamos mobilizar, também, os nossos fornecedores a produzirem de forma ecoeficiente, reduzindo o uso de recursos naturais e melhorando processos no desenvolvimento de produtos. Temos todas as condições de criar coleções com matérias primas menos impactantes, sensibilizando a nossa cadeia de fornecedores a se tornar comprometida com essa causa.

E tudo porque consumo consciente não é mais uma tendência e, sim, uma realidade. A sustentabilidade passou a fazer parte da nossa missão, da nossa estratégia, por isso criamos um plano com objetivos sociais e ambientais, o qual precisamos seguir colocando em prática, de forma a gerar valor, cada dia mais, a todos os nossos públicos. 

Em paralelo, algumas vezes me preocupo ao constatar que líderes, tanto do setor público quanto privado, não estão percebendo a velocidade das mudanças. Uma das justificativas está no fato de sermos um país extremamente fechado e protegido. Se nos protege, ao mesmo tempo nos atrasa em relação ao que acontece no mundo. Mas as leis de mercado, cedo ou tarde, ultrapassam barreiras e proteções: ou nós fazemos a mudança ou alguém virá e fará por nós. Ou as mentes se abrem, ou, quando quiserem fazê-lo, talvez seja tarde demais. Mesmo raciocínio para empresas e operações. 

De minha parte, vejo muitas ideias e tecnologia que podem melhorar nossas empresas. Vejo uma oportunidade de me renovar e aumentar a minha energia e a vontade de fazer novas coisas. 

Em meio a todas estas rupturas e novos desafios, uma coisa é imutável: o encantamento do consumidor, a importância do cliente, do mercado. No passado se dizia: “O consumidor está no centro de tudo, ele é a razão da existência da empresa”. Na era digital, é preciso “conhecer e maximizar a experiência do consumidor. Conheça esta experiência e digitalize os processos, eliminando pontos de atrito”. Não é a mesma ideia? Bem-vindas, novas palavras, novas ideias, novas tecnologias! O futuro será bastante divertido.

*Colaborou Dirceu Chirivino. 

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Sexta, 13 Dezembro 2024

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