À procura de um designer

Acompanho alguns fóruns de empreendedorismo nas redes sociais, tenho vários amigos empreendedores e posso afirmar que contratar designers é um desafio. Não é nem questão de que os clientes não têm noção nenhuma do trabalho do profissional e de sua im...
À procura de um designer

Acompanho alguns fóruns de empreendedorismo nas redes sociais, tenho vários amigos empreendedores e posso afirmar que contratar designers é um desafio. Não é nem questão de que os clientes não têm noção nenhuma do trabalho do profissional e de sua importância. Muitos sabem exatamente o peso que uma boa representação gráfica tem para seu negócio e, mesmo com limitações orçamentárias, priorizam a contratação de escritórios ou diplomados em vez de arriscar por si ou pedir favores a sobrinhos. Ainda que eu tenha tomado todos os cuidados e levado o assunto muito a sério, tenho ouvido histórias escabrosas.

Há pouco tempo, uma grande amiga, consultora e palestrante, contratou um estúdio para definir sua identidade visual. Ela me mandou as três opções que lhes foram sugeridas Uma era tão, mas tão absurdamente diferente da outra, que só me restou perguntar como eles defenderam o conceito, ou seja, que identidade profissional era essa que estavam querendo traduzir. Sem resposta. Apresentaram então outra alternativa (depois de semanas), julgando ser a definitiva. Explicaram que o motivo do atraso era que o trabalho precisava de muito estudo por causa da sua complexidade. Em menos de um minuto pesquisando imagens no Google, encontrei a escolha deles em um site de logotipos sem custo (aqueles que os designers demonizam). Não mudaram nem a cor. Pois é...

Um casal de amigos aqui de Berlim contratou um designer local com a recomendação de que ele já tinha passado até pela BMW. O sujeito nascido e criado na terra da Bauhaus levou quatro semanas para entregar um folder tão tosco, errado em tantos aspectos que, para coroar a obra, esqueceu de colocar o endereço do site (o negócio era um e-commerce). Quando questionado, justificou que isso atiçaria a curiosidade das pessoas, que procurariam o endereço por conta própria (reconhecer o erro, nem pensar, né?).

Outro caso é o da Bendita Pele, que relatei por inteiro em três posts aqui no Blog (esse, pelo menos, com final feliz). E tenho certeza que todo mundo tem histórias igualmente infelizes para contar.

Justamente para evitar que mais profissionais e empresas passem por esses perrengues desnecessários e a categoria dos designers fique ainda mais desgastada, apresentarei aqui algumas dicas para facilitar a escolha do profissional responsável pela forma como as pessoas verão (literalmente) uma marca no mercado. Vamos lá!

1. Há médicos, dentistas, arquitetos, professores, cabeleireiros, advogados e pedreiros péssimos, ruins, médios, bons e sensacionais. Por qual razão com designers seria diferente? Na verdade, você já sabe como escolher os melhores: da mesma maneira que escolhe outros profissionais. O negócio é sair pedindo dicas para amigos, conhecidos e clientes.

2. É importante entender que o trabalho que o profissional fará é tentar representar graficamente a identidade de sua empresa, a essência, o caráter, a personalidade dela. Então ele precisa de algum método investigativo para determinar isso (um dos que estão disponíveis e de graça é o GIIC®, que eu mesma desenvolvi). Só então poderá começar desenvolver os desenhos e alternativas.

3. Sempre peça para ver o portfólio (isso é mais importante que o currículo). Ali serão apresentados os trabalhos que o profissional/empresa já fez. Escolha um item que você gostou muito (ou detestou) e peça para ele explicar como chegou no resultado. Isso dirá muita coisa sobre o método de trabalho. 

Nota: Se a explicação for confusa ou não convencer, mau sinal. Procure outra alternativa.

4. Pergunte tudo, mas absolutamente tudo. Não deixe nenhuma dúvida em aberto: como funciona, quais são as etapas, o que acontece se você não gostar, o que está incluso/excluso, se terá de pagar a mais cada vez que tiver de trocar o endereço no cartão de visitas, se você receberá um arquivo (ou vários) que poderão ser usados por outros fornecedores Enfim, tudo o que se lembrar. Se o profissional/empresa for bom, terá um contrato escrito com todos esses detalhes. Isso se chama gestão de expectativas e os excelentes profissionais praticam sempre.

5. Avalie a apresentação visual do designer/empresa. Você consegue perceber as qualidades que está buscando? Se não, uma boa dica é procurar outro. Se o profissional/empresa não faz a lição de casa, como vai atender seu projeto?

6. O manual de aplicação, documento que explica como a marca gráfica deve e como não deve ser utilizada (proporções, fundos, fontes tipográficas, cores etc), é um item muito importante. Evita que o trabalho desenvolvido com tanto cuidado possa ser estragado porque havia desconhecimento sobre a proibição de aplicar a marca sobre um fundo estampado, por exemplo. Assegure-se que esse ponto esteja incluso no contrato.

7. Você não é obrigado a gostar do resultado apresentado. Se está desconfortável, explique ao designer o motivo; o que exatamente não está bom do seu ponto de vista. Quanto mais específico for com relação aos itens que estão lhe perturbando, mais fácil será para solucionar o problema. Se o profissional realmente estiver seguro do que fez, explicará o porquê da escolha de cada detalhe (cores, formas, tipografia etc) e o motivo pelo qual um ponto ou outro não deve ser alterado. Poém, ele pensará em alternativas para adequar suas necessidades. Como você vai fazer seus clientes se apaixonarem pela empresa se você mesmo não é capaz?

8. Mesmo que goste do resultado, não deixe de comparar a solução gráfica apresentada com outros resultados do Google Images. Isso acontece até com empresas grandes; não é justo cobrar por um trabalho que não foi feito.

9. O trabalho que descrevi acima é o desenvolvimento de uma marca gráfica ou de uma peça gráfica. Isso não é Branding. Pode ser uma parte de um projeto de Branding, que é essencialmente estratégico e anterior ao projeto gráfico, mas são coisas diferentes. Se o profissional chamar apenas essa etapa de Branding, fuja. Ele não sabe o que está fazendo.

10. Se ficou feliz com o trabalho, não deixe de recomendar para os amigos. Só assim o mercado se livrará dos maus profissionais e valorizará verdadeiramente os que merecem.

Uma das coisas mais lindas e bem-sucedidas do mundo é quando o cliente encontra seu designer e vice-versa. Palmas, abraços e muito sucesso para todos os envolvidos.

Não é isso que todo mundo quer?

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Quinta, 12 Dezembro 2024

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