No abundante mundo dos dados, ainda há escassez
No universo das unidades de memória, um zettabyte equivale a aproximadamente um sextilhão de bytes. Parece bastante? Então multiplique por 40. Eis a quantidade de dados gerada ao longo do último ano em todo o planeta. A estimativa foi realizada pela IBM e pode ser mais facilmente compreendida a partir de outro cálculo: é como se cada um dos quase oito bilhões de seres humanos gerasse, em média, 1,7 megabytes por segundo — ininterruptamente, ao longo de 365 dias.
São os rastros que deixamos pelo caminho em um mundo cada vez mais digital: fotos, informações, mensagens, interações etc. Pediu comida pelo aplicativo? Agendou uma corrida? Pesquisou preços para trocar a geladeira? Tenha certeza: são raros os momentos da sua jornada diária em que você não está produzindo dados.
Nesse cenário de absoluta abundância, a palavra escassez parece não ter lugar. Mas ela se aplica: diante de tanto material bruto a se trabalhar, ainda há pouquíssima correlação e análise. O desafio está em saber usar — e aplicar na prática, de maneira inteligente e estratégica — os dados que coletamos.
Trata-se de uma pauta que não se limita à agenda dos executivos de tecnologia ou dos técnicos da área. É uma questão do negócio como um todo: 95% das empresas ouvidas em uma pesquisa realizada pela Forbes citaram a falta de gerenciamento dessas informações como um obstáculo para a empresa.
Para isso, não basta olhar apenas para os dados: é preciso ter em mente os problemas do negócio que podem ser solucionados. Como em um deserto com incontáveis grãos de areia e horizonte a perder de vista, tudo o que precisamos é de uma bússola para indicar o caminho — que é a satisfação do nosso consumidor ou a resolução de algo que possa melhorar essa relação.
Que o diga o Netflix. A gigante de entretenimento diz economizar US$ 1 bilhão por ano com ações de retenção de usuários utilizando big data. Entre as informações coletadas estão histórico de buscas, avaliações, programas assistidos, entre outros. Combinando tudo isso, ela customiza a experiência do consumidor mostrando aquilo que ele gostaria — ou o que poderia gostar.
A sua empresa pode não trabalhar no ramo de streaming, mas o Netflix é seu concorrente. Afinal, as pessoas passam a se acostumar a esse tipo de tratamento — onde a correlação de dados qualifica a entrega e fideliza clientes. E esperam que o mesmo tipo de eficiência e usabilidade esteja disponível em outros pontos de sua jornada de consumidor: no banco, no restaurante, na loja de roupas etc.
O historiador Jerry Z. Muller fala sobre o risco da "tirania das métricas" do mundo moderno: uma verdadeira compulsão por medir o tempo todo. O ponto não está em transformar tudo em números e gráficos. Pelo contrário: é saber traduzi-los e utilizá-los a favor das pessoas e de suas expectativas. Isso, sim, é escasso — e cada vez mais decisivo.
*Head de Data Intelligence da Brivia
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