O livro "Depois do Pogrom"

Será que o mundo só se condói de judeus quando eles são vítimas?
Doutora em Ciências da Religião, à frente do Labô da PUC-SP, Andrea Kogan traduziu um livro que todo interessado pelo tema deveria ler

1 – A ideia central do livro é desmascarar o standard duplo da academia, da intelectualidade e da imprensa ao se debruçar sobre as consequências funestas do 7 de outubro, uma data que já entrou da pior forma possível para a história do povo judeu.

2 – Revestida de imensa carga dramática, visto que representou uma violação brutal do território de Israel e o morticínio de mais de 1 mil seus cidadãos, essa data nefanda assinala uma chaga purulenta porque traumática – não importa a virulência da retaliação.

3 – Não vou dizer que equivale à destruição do templo, à travessia do deserto, à expulsão da Península Ibérica ou muito menos ao Holocausto. O futuro dará a justa medida do choque que foi tão significativo quanto as guerras de 1948, 1967 ou 1973.

4 – Em Depois do Pogrom, o jornalista britânico não poupa fontes para ilustrar a tese. O que está por trás da moda do lenço palestino? Em que medida se glamouriza um ato odiento em nome de causas "progressistas" vazadas pelo from the river to the sea?

5 – E tem mais: por que a violência perpetrada contra mulheres quando do ataque aos kibutzim do Sul não ecoa no coração das feministas de passeata, sedentas por um púlpito nos parlamentos ocidentais? É evidente que o autor tem lado. Ele não se pretende imparcial.

6 – Mas isso não desmerece o esforço documental que foi feito ao mostrar o verso e o reverso da medalha. O livro é fundamental para o bom debate de um tema em que quase todos argumentam muito mal, a começar pelos diretamente implicados, o que é compreensível.

7 – Num momento em que os judeus sentem na pele a recrudescência do antissemitismo, temos aqui um roteiro de defesa e de argumentação pró Israel - para alguns, pró Ocidente - que vai aos limites do possível ao denunciar o viés narrativo do pós-Pogrom.

8 – Há uma verdade inescapável. O terror do Hamas – uma escumalha formada por biltres de baixos instintos e escassos escrúpulos – venceu a batalha da opinião pública mundial. A perda de soft power de Israel se fará sentir por muitos anos. Algo de essencial morreu.

9 – Ironicamente, e não por acaso, isso aconteceu justo quando o Estado hebreu vivia um dos seus momentos diplomáticos mais promissores, a despeito da deterioração inexorável da cúpula política, um arranjo pernicioso entre religiosos e a direita populista.

10 – Culpada, em última instância, pelas negligências próprias dos soberbos, muito ainda será dito sobre como pela libertação de um único soldado, Israel abriu as celas para 1 mil prisioneiros inimigos, ponto seminal do rastilho de pólvora até a deflagração do barril.

11 – Numa tradução impecável da professora e amiga Andrea Kogan, cada linha ecoa indignação e, bem entendido, convida à reflexão. Nesse contexto, isso o torna indispensável. Será que o mundo só se condói de judeus quando eles são vítimas?

12 – A propósito, não há dia em que eu não ouça Andrea Kogan nos seus stories, um dos únicos que me obrigo a ver e ouvir. De forma quase sempre bem humorada, mas extremamente perspicaz, ela discorre sobre os cinquenta tons de cinza do antissemitismo.

13 – Doutora em Ciências da Religião, à frente do Labô da PUC-SP, juntamente com o professor Luiz Felipe Pondé, Andrea traduziu um livro que todo interessado pelo tema deveria ler. Para um judeu, ver seu governo comparado ao nazismo reverso vai além do suportável.

14 – Se a truculência militar e as vicissitudes messiânicas leiloaram o futuro de Israel – despojando-o do romantismo –, o entendimento dos fatos é um passo para que se supere um momento de drama e definição. Recomendável, portanto, para não judeus e curiosos.

15 – Em quaisquer cenários, o que Israel perdeu foi incomensurável. Falhou em se defender, apesar dos alertas; falhou em achar os reféns, o que derrubou o moral nacional; falhou em unir a Diáspora com os israelenses, que travam uma guerra surda em privado.

16 – Por fim, o livro não tenta esboçar cenários sobre o porvir. Foge ao escopo. Mas não se fará uma leitura serena do ocorrido sem o concurso desta obra de 154 páginas, a apenas R$ 41 na Amazon. Bom para quem demoniza e vital para quem é demonizado.

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Terça, 05 Agosto 2025

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