Na Bahnhofstrasse

Hoje atravessei a Suíça do Sul ao Norte de trem. No Ticino, na parte italiana, o tempo estava simplesmente glorioso. Os cumes brancos reluziam em primeiro plano e o céu era de um azul como só vi poucas vezes na vida. Já depois do grande túnel que faz...
Na Bahnhofstrasse

Hoje atravessei a Suíça do Sul ao Norte de trem. No Ticino, na parte italiana, o tempo estava simplesmente glorioso. Os cumes brancos reluziam em primeiro plano e o céu era de um azul como só vi poucas vezes na vida. Já depois do grande túnel que faz a ligação com o norte, as nuvens baixas não chegaram a enfeiar o dia, mas lhe tiraram sim um pouco do esplendor. Chegando a Zurique, esqueci os fricotes de meteorologia e me voltei mais para a vida real, depois de uma agradável conversa com uma jornalista brasileira no trem. 

Pois bem, mal cheguei ao hotel, resolvi que deveria ir ao Centro para o proverbial passeio na Bahnhofstrasse (foto) que, convenhamos, congrega muito mais do que riqueza e luxo. Não se pode negar sim que em poucos lugares do mundo se veem vitrines de tanto bom gosto. Goste-se ou não da Suíça, trata-se de uma terra de gente industriosa e disciplinada. Por trás de cada loja local – e haja marcas que ressoam no mundo todo – há uma legião de aprendizes que, indiferentes ao diploma universitário, aprendem desde cedo a agregar valor ao que fazem. 

Quando passei diante da loja da Apple, o telefone começou a tremer em meu bolso e me assustei. O que acontecera? Ora, como a conexão com os aparelhos da marca é imediata, eis que entraram mensagens de WhatsApp. Uma gravação que eu fizera no trem estava tendo alguma repercussão nas redes sociais e diverti-me com alguns comentários que os leitores faziam. Preocupado com as notícias da viagem de um certo Capitão aos Estados Unidos, porém, não tardou para que de lá chegassem boas novas. O que seria? 

Ora, segundo as informações que li, o Brasil dispensará o visto de turismo para americanos, canadenses, japoneses e australianos. Não tenho o detalhamento das notícias e pouco se me dá que haja reciprocidade (eu no lugar deles, não a daria de jeito nenhum). Mas se procedente, eis uma bola na rede retumbante. Imagino os bilhões que o Brasil perdeu por conta dessa prática obsoleta. Por mais que ela obedecesse a acordos bilaterais, o que conta é que muda a disposição do "trade" turístico mundial para nos visitar. E assim, ganha o turismo. 

Convenhamos, o Brasil fica na contramão dos grandes fluxos mundiais de turismo. Longe de ser um país barato, a carga tributária torna nossas tarifas não raro extorsivas, quando não a gatunagem pura e simples dos que querem extorquir quem vem de fora. Admitamos que o turista supere o medo de uma bala perdida e de um assalto e se disponha a vir ao Brasil. Ao saber que precisa de um visto, é como se precisasse de averbação divina para esquentar o banco no purgatório. Ele desiste. Agora as coisas podem mudar. 

O visto é muitas vezes uma excrescência, um preciosismo ridículo. Quantos milhões não deixou de ganhar a pobre república da Moldávia com turistas brasileiros que, ao saber que precisavam tirar um visto, desistiram de visitar a terra de seus ancestrais, lá nascidos quando ela ainda se chamava Bessarábia? Pelos bons ofícios do novo cônsul honorário em São Paulo, o visto foi abolido e já se ouve português nas ruas de Kishniev, inclusive com inconfundível sotaque pernambucano. Portanto, eis um gol nada banal a ser comemorado. 

Aos trancos e barrancos, avançamos um pouquinho. Voltei da Bahnhofstrasse direto para o hotel para dividir com vocês minha alegria.

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Quinta, 21 Novembro 2024

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